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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Corrida da Liberdade - Das Flores e da Primavera


 
Eram 5:15 da manhã do dia 25 de Abril de 1974. A coluna que saiu de Santarém para fazer a revolução, mudar o governo correndo o risco de serem considerados como traidores à nação, composta por 25 veículos, entre chaimites e alguns tanques, chega ao Campo Grande e pára no cruzamento da Cidade Universitária.
E pára porque está sinal vermelho...
(a insubordinação mais bela do 25 de Abril – José Alves Costa, o cabo apontador que desobedeceu às ordens do brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre a coluna de Santarém)
 
Reparem, isto só em Portugal: Veem fazer uma revolução, de peito feito, contra tudo e contra todos mas param nos primeiros sinais vermelhos que encontram, numa Lisboa deserta. Não conseguem quebrar uma regrazinha, não vão levar uma multa ou atropelar algum gato. Somos mesmo bonzinhos
O capitão Salgueiro Maia, irritado com o ridículo da situação, manda avançar e dá ordem para não haver mais paragens até ao Terreiro do Paço.
 

Actualmente

 
 
No ano passado adorei esta corrida. Adorei porque... não sei bem explicar porquê mas vou tentar porque este ano foi a mesma coisa. É uma sensação libertadora a desorganização organizada da distribuição de dorsais. O ambiente festivo que se encontra em todas as faces das pessoas de todas as idades. A distribuição de Cravos, etc.
Mas também era o aniversário do Pedro Torrinha, que entrou oficialmente no seu 40º ano de vida (PARABÉNS!). Combinamos encontrarmo-nos secretamente no Posto de Comando do MFA... nós e pelos vistos mais 3.000 pessoas.
Às 10:30 da manhã em ponto a coluna de atletas recebeu guia de marcha na direcção dos Restauradores. Tinha começado a revolução.
A história da corrida é bastante simples. Começamos por dar uma voltinha na Pontinha... ah e por favor atletas masculinos deste país, nao utilizem fatos de licra com alças sem roupa interior por baixo. Sinceramente... praticamente a ver-se as nádegas e... coiso.
Se o grupo partiu todo junto, depois de corrermos em direcção a Carnide velho com algumas subidas pelo meio perdi o grupo todo, não tinha pedalada para eles e deixei-os ir. O pelotão subiu em direcção a Telheiras. Passando por Telheiras tivemos algum apoio popular, contornamos o Estádio Alvalade XXI com alguns canticos sobre "quem não saltar qualquer coisa lampião". Não saltei, tinha de correr.
Chegados ao Campo Grande, temos a aventura dos tuneis. Para baixo, para cima, para baixo, para cima...finalmente no último... Pára! Sinal Vermelho. Ah afinal, hoje não é preciso parar.
Depois foi só mais um esforço até ao Saldanha e a partir daí é sempre a descer. A descer e a acelerar primeiro rumo ao Marquês de Pombal e depois Avenida da Liberdade abaixo. De 4:52 ao km passamos para uns sempre agradáveis 4:15 ao km até à meta.
Passei pela tabuleta dos 10 kms aos 47:30 (seria novo record) e acabei a corrida aos 51:31, muito bom. No final apanhamos o metro para a Pontinha e tivemos direito a...
TORTA DE ANIVERSÁRIO!!! E CANTÁMOS OS PARABENS!!! PARABÉNS PEDRO!!!

E agora uma coisa completamente diferente - Floralias

 
 
Isto do dia da Liberdade e dia dos cravos e da primavera de Abril fez-me lembrar outra coisa.
Começaria ontem o festival das Floralias, uma celebração romana dedicada à Deusa Flora "mãe das flores", "deidade amiga" e "deusa jovial" entre 28 de Abril e até 3 de Maio. Num dos ritos, o Florifertum, levavam espigas de trigo para um sacrarium ou templo. Uma celebração da libertação dos grilhões do inverno e das alegrias da primavera.
Em Portugal ainda subsistem algumas tradições relacionadas com a celebração da primavera
 
A celebração das Maias, ou do Maio Moço por exemplo. A Maia é uma boneca de palha, em torno do qual havia danças toda a noite do primeiro dia de Maio. Por vezes, elegiam a rapariga mais bonita e de vestido branco coroada com flores, a Rainha do Maio, sentada num trono florido era venerada, todo o dia, com danças e cantares.
 Em algumas zonas do norte do país era costume também as meninas adornarem um menino com flores que dizem representar o “Maio-Moço” e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele. É engraçado que aqui as raparigas quebram as regras estabelecidas e tomam a iniciativa no jogo amoroso. São elas que decidem.


Esta festa, chegou a ser proibida, como aconteceu em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...", mas ainda assim as pessoas quebravam as leis.
Hoje em dia ainda é possível observar em algumas zonas do nosso país, a colocação de ramos de giestas em flor, ou até mesmo coroas feitas de ramos de giestas, conjuntamente com outras flores e enfeites coloridos, nas portas e janelas das casas ou nos automóveis, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio.
 

Por outro lado, temos a quinta-feira da espiga, que ocorre no dia da Quinta-feira da Ascensão com um passeio matinal, em que se colhe espigas de vários cereais, flores campestres e raminhos de oliveira para formar um ramo, a que se chama de espiga. Lembram-se do Florifertum?
O que é que isto tem a ver com o 25 de Abril? Lembrem-se que que a Primavera surgir é preciso ter força e coragem para quebrar as regras que nos prendem nas trevas do Inverno, porque  para viver a vida plenamente não podemos ficar uma vida enredados pelos nossos medos.
Bom tudo isto, para vos aconselhar a sair e correr (ou dançar) por campos e montes floridos, eleger o vosso Maio Moço ou a Rainha do Maio e, dado que todos nós somos parte da natureza, festejem a Primavera que há dentro e fora de nós.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Corrida do Benfica - Rumo ao Titulo versão 2




E agora a crónica que milhares e milhares de leitores ansiavam por ler.
Pessoas que me telefonavam a perguntar agressivamente porque é que eu não escrevi, outras que me contactavam a meio da noite porque não conseguiam dormir com a ansiedade. Pois aqui está... muitos sairão desiludidos. Mas afinal de contas é a corrida do Benfica onde todos querem participar, inclusivamente cheira-me que houve vários sportinguistas que foram impedidos de participar.
Bom, vamos ao ponto de situação pré corrida! A verdade é que demorei uma semana a recuperar as pernas do Trail de Monsaraz e outra semana a recuperar de uma infeção pulmonar, isto é, não estava nada preparado quer muscular quer cardiacamente para uma corrida rápida de 10 kms. O objetivo era dar o melhor dentro do possível.
O dia começou com uma visão de um campo de papoilas iluminadas pela matinal estrela, que pousavam num campo verde dourado à saída de casa. Nem de propósito.
12.700 e qualquer coisa, foi o dorsal mais de número mais elevado que eu reparei junto da partida. Impressionante o número de pessoas que acorreram à corrida do Benfica que formavam uma . No final da Av. Lusíada dei de caras com um Pedro de cara fechada, e eu a pensar que andava melancólico, e com um Eduardo que ninguém consegue suportar de tão bom humor. O homem está fortíssimo fisicamente e psicologicamente.
 
Ainda assim muitos corredores com a camisola do sporting o que só abrilhantou a festa (ah que horror eu escrevi sporting com letra pequena desculpem).
Comecei o primeiro km (5:02) a tentar ir atrás do Pedro, furando aqui e ali pela massa uniforme de camisolas vermelhas. O Eduardo também ajudava, até pelo facto de levar uma camisola azul (?) era fácil distingui-lo, mas a meio do 2º km (4:33) tornou-se impossível aguentar aquele ritmo e deixei-os ir, eles estão imparáveis e eu estava em recuperação.
E à entrada na Avenida Lusíada a subir entrei no ritmo que me achei ser o meu (5:02) e fui passando os corredores que podia. Tudo o que sobe... desce e depois da Lusíada fomos dar uma maravilhosa volta ao estádio.
Depois de entrar nas garagens cresce a ansiedade pela entrada no relvado. É o momento de glória que todos os sportinguistas anseiam pela primeira vez. É o tempo de levantar os braços de tirar fotos e de ir embora. Ainda assim o 4º km foi feito em 6:24 e eu não me lembro de ter parado.
Bom, saída do estádio em direção aos tuneis do colombo com direito a beberete gourmet, e a meia garrafa de água pela cabeça abaixo que isto faz calor. Honestamente detesto correr naqueles tuneis, é cimento em demasia. 5º km  em 5:08 e comecei a acreditar que conseguiria baixar os 50 minutos de prova. Mas vi a Dulce Félix, muito bom.
Acelerei a passada para os 5:02 no 6º km, ainda assim não consegui baixar dos 5', ao 7º adivinhem quem encontrei? A Natalia Marcheva, a russa do Trail de Monsaraz e da Corrida dos Sinos. A mulher está em todas. Bom este 7º km é uma longa rampa até Carnide que desgasta as pernas. Acaba por ser o maior desafio da corrida. Tempo ao km 5:09.
Mais uma vez, tudo o que sobe desce e depois da rampa a subir vem a rampa a descer. Chegou o tempo de acelerar por ali abaixo até aos túneis. Mas a caixa torácica ainda não correspondia e comecei a notar numa dorzinha do lado direito, o que é isto? Ah que saudades de dor de burro. 8º km a 4:50 e depois o 9º a 5:04 afinal de contas tive que me proteger.
Mesmo a subir para o estádio pelos bairros que o circundavam resolvi acelerar, viesse a dor de burro que viesse, viesse a falta de força nas pernas, acelerei e no final consegui sprintar. fiquei muito contente com este km 4:32, não deu para baixar os 50' mas da próxima não escapa.

Resultado final 50:30 qq coisa e vários quilómetros acima do que eu pensava conseguir fazer. Ainda assim esta corrida irá certamente tornar-se um clássico na minha vida
 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Como fazer uma corrida ZEN – Cascais Lisboa Classic 20Km 2015


Sim, é possível juntar o estado ZEN a uma corrida de atletismo. É só querendo, que o corpo se habitua e a vontade conduz.
Mas para isso acontecer são precisos preparos, que não sendo imprescindíveis, são catalisadores de tal cadência.

Bom antes de tudo, é necessário definir um objetivo qualitativo.

Por exemplo: Chegar sem dores, ou melhor ainda, chegar tão descansado à meta, que dá para fazer aquele sorriso “Colgate” (passo a publicidade), para a foto no final da prova.

Agora o ambiente: Escolher um dia de sol, sol calorento mas não abafado. Afinal, não queremos chegar completamente transpirados para a foto!
Uma vista eloquente do tejo, de tão fantástica que é, que juramos ver as ninfas de camões, lá junto ao bugio. Com um verde brilhante, quando o céu espanta as nuvens bisbilhoteiras, e azul profundo quando as mesmas se tornam frequentes.

Escolhemos agora a companhia. Tem que ser daquela malta que compartilha aquilo que de mais importante tiramos da corrida: o convívio, a amizade e um pouco de competição naquelas alturas mais justificadas. Aquela malta, de M grande, que parte contigo, que vai para a frente, ou que fica para trás, mas que chegará sempre ao mesmo destino e lá ficará a espera por quem ainda não chegou! (nem que seja por causa da boleia de volta).

Agora a indumentária: nada de super profissional, para não chamar a atenção e sobretudo confortável e pratico para a jornada que se advinha: Aquelas meias confortáveis, os calções com o bolso para levar as chaves do carro, a t-shirt da equipa para não esquecer a identidade, o boné para esconder a careca e os óculos escuros para dar um ar “Hollywood” na passadeira vermelha da meta!

Nesta clássica Cascais Lisboa, foi tal o profundo estado ZEN, que nem sequer olhei para o relógio e de 5 em 5 Km´s era “acordado” com abastecimentos de água e com os vários corredores prontos para iniciarem a sua fase das estafetas.

Do Estoril a Algés, da Parede a Belém, passando paralelamente pelo passeio marítimo de Oeiras, a passada foi tão fluida e a pressa tão pouca, que até o abastecimento da água foi simples, rápido, sem engasganços e desperdícios de água.

Sem muita confusão no início e uma extensão de estrada que permitia as várias cadências de corrida, esta prova merecia mais promoção, pois em termos de organização tudo estava impecável.

Até a maçã no final estava madura!.........e havia relvado suficiente para todos se sentarem e fazerem uma patuscada!

Tenho que pensar nisso para o ano!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

33ªCorrida dos Sinos - Ai os meus bronquios

(O Pedro Pimenta, a Rita Carvalho e depois eu)


Estava completamente sozinho quando entrei no IC 19 e me pus a caminho de Mafra, as longas sombras espreguiçavam-se lançando sombras sobre como seria a minha corrida naquele dia. A 33ª edição da Corrida dos Sinos

Não estava confiante, tinha passado a semana anterior com uma maldita tosse com expectoração (demasiada informação?) e só à segunda tentativa é que os médicos acertaram na medicamentação. Ainda assim havia uma comichãozinha cá dentro do peito que me deixava desconfiado.

Foi ainda com uma nuvem negra que me ensombrava quefui levantar os dorsais no excelente equipamento desportivo que constitui o parque municipal de Mafra. Ainda por cima esqueci-me do boné com este sol todo a bater em cima da minha careca. Ai se a minha mãe sabe disto...

Quase não aqueci e fui ter com o sempre animado grupo dos Surf Runners junto à partida. Compactados uns contra os outros, começo a andar e pouco depois lançam a manada de corredores pelo portal de partida.

Subindo até ao Convento de Mafra, vou-me defendendo num ritmo baixo que me permita controlar a respiração. Decido ir com o Pedro Pimenta e com a Rita Carvalho, se bem que rapidamente me deixaram para traz. Junto ao convento os pulmões começam a avisar-me com ameaços de tosse.

Dentro de mim, ouço uma voz de um lado a dizer "Eu bem te avisei que não estavas capaz" e outra do outro a dizer "Zémi, Ai de ti que desistas!". Entre uma que me mandava abaixo e outra que puxava por mim, resolvi acompanhar esta segunda, o que fariam vocês?

Sim, você aí, o leitor que está a ler o texto neste momento, sim desse lado do ecrã, o que é que você fazia? Diga-me! Deixava-se ficar acomodado por uma voz que o deixa em baixo, ou segue uma voz que o apoia?

Depois da saida de Mafra, passamos por Paz, essa calma localidade, e começamos a descer por vilarejos saloios à medida que os kms se acumulavam, passando pelo Sobreiro onde tinha comido uma fartura e dançado "baile"... se tivesse companhia e até à Achada.

A partir daí começa uma longa subida que me vai testando passada a passada os musculos das pernas. O sol forte e o vento começaram a fazer estragos. Quando não estava vento, estava um calor abrasador e implorava por uma brisa, quando estava vento, estava uma ventania que me atirava para trás.

 Mas a verdade é que mal ou bem lá se foram fazendo e apresento-me à entrada de Mafra com a cabeça erguida e a moral em alta.

Antevinha-se uma corrida sem precalços mas depois de entrar na cidade, numa linda quinta de prados verdejantes um aroma natural e bucólico a residuos sólidos da digestão de gado  vacum, suino e caprinos invade-me os bronquios que se contraiem numa sucessão de espasmos consecutivos. Deixo de conseguir respirar normalmente... e quase que tenho de parar de correr na última súbida.

(muito desgastado no final)
 
Mas não parei, recuperei o controlo da respiração e acelerei pouco a pouco até que o tartan me recebe com vontade de fazer o sprint final da ordem. Fiz mais uns minutos que o ano passado mas o importante é que consegui começar e acabar sempre a comer, a correr a correr quero dizer (onde é que está o meu pão com chouriço?).



 

 

domingo, 12 de abril de 2015

Teste de Forma #3

Faltam três semanas para o primeiro grande objectivo da época. Direi mesmo que é o meu grande objectivo do ano. O Lisboa Triathlon, na distância Half-Ironman, com 1900m de natação, 90 kms de ciclismo e 21,1 kms de corrida, é já a 2 de maio e fiz hoje o meu derradeiro treino longo, bem puxadinho para testar a forma, saber como estou ao fim de quase cinco meses de treino para esta prova. E o que fiz foi isto.
O percurso foi um que já tinha feito há algumas semanas, numa recta grande entre o Tojal e Vialonga. Não é totalmente plana, mas as subidas são ligeiras e, acima de tudo, é sempre a direito, só com algumas rotundas pelo meio. Não há muito trânsito a esta hora da manhã pelo que é um local muito bom para andar para trás e para a frente. Uma volta são 12 kms (+-) e hoje fiz três voltas, num total de 75 kms, incluindo o caminho de ida e volta. Hoje foi o dia do teste final. A bicicleta está afinada e pronta - não mexe mais - testei o fato de triatlo dos SS CGD que vou usar na prova e até teste o sistema de prender o gel energético ao quadro, de forma a estar ali à mão e poder comê-lo em andamento. Basicamente consiste em prender a ponta da frente (a abertura) ao quadro com fita cola. Depois quando se puxa, a "tampa" fica lá agarrada e o gel já está aberto e é só ingerir, algo que se faz com uma mão, que eu não sou cá daqueles artistas que se mete ali a andar sem mãos, "à Pro"...
Mas o teste principal era, claro, às pernas. E reagiram bem e em crescendo. A melhor das três voltas foi mesmo a última que fiz, numa altura em que estava mesmo bem, cheio de força, com um ritmo fantástico. No total fiz uma média de 27.1 km/h e se nos 90kms do Lisboa Triathlon fizer algo deste género quando chegar à transição vou ser um tipo bastante feliz.
Depois veio a corrida. Agora corria-se em Odivelas, junto de casa e o objectivo era fazer entre 7 e 10 quilómetros. E senti-me muito bem. Cheguei a correr a 4.45 min/km num percurso - quem conhece Odivelas sabe - que não é fácil, cheio de subidas e descidas. Pelo caminho acabei por ir dar à Ecopista de Odivelas, o que acabou por ser simbólico, uma vez que foi aí que, algures em 2008, comecei a dar umas voltinhas de bicicleta. Antes eram apenas 11 kms e chegavam para ficar exausto. Acabei por dar meia volta aí e regressar a casa, com 7,43 kms feitos, com um ritmo bastante aceitável. Mais uma vez, se terminar a meia-maratona final com uma média de 5.15 ficarei feliz e contente.


Resumindo... não sei como vou estar daqui a 3 semanas, mas hoje estive muito bem. Já dava para terminar o Triatlo Longo e sem grandes sofrimentos. E isso para mim já seria uma grande vitória.

Tic, tac... Tic, tac...

terça-feira, 7 de abril de 2015

TRAIL DE MONSARAZ - UMA EXPERIENCIA


 
Resumo da prova


A última coisa a fazer no sábado à noite foi, evidentemente, preparar tudo para a prova. Colocar dorsais, preparar a mochila para que no dia seguinte fosse tomar o pequeno-almoço e partir para a corrida.

Era finalmente o meu regresso aos trails. Admito que possa não ser bom neste desporto, mas adoro a sensação de correr na montanha, por trilhos mínimos, por sítios onde normalmente os humanos não vão. É uma aventura e faz-me sentir vivo. E a ansiedade que me consumia por dentro, me dava medo de não aguentar os 25 kms vivo (nunca tinha feito esta distancia) e ainda assim a ir para a frente o projecto.

Tínhamos pedido para abrirem o pequeno-almoço às 8h e fomos os primeiros a abrir a sala. Mas pouco depois foram entrando pessoas trajadas para correr e reparamos que afinal o hotel estava cheio de trailers.
Pequeno-almoço com pãozinho alentejano quentinho, fiambre, queijo, sumo natural de laranja e chá de frutos silvestres... Ah e doce de abobora. Doce de abobora espalhado por cima do pão... hmmm... só antes das corridas por causa da dieta.

Ultima passagem pelo quarto, apanhar as mochilas, esvaziar a tripa e irmos para o Convento da Orada.

No ar um drone branco voava sobre as nossas cabeças. Nunca tinha visto um drone ao vivo. Não gosto (ver o final).
Nem fizemos aquecimento, simplesmente mandamos umas piadas para o ar, cumprimentamos o Marcolino e toca a partir. Inicialmente surpreendido por ver quase 500 pessoas na partida, reparei que muitos traziam ténis de estrada e pouco a pouco percebi que iam à prova dos 12,5 kms.
 
 Passamos no cromeleque do Xerez a correr, e confesso que sempre me apeteceu correr por ali, mesmo quando passei uma fase em que ia ao Alentejo como quem vai caçar monumentos megalíticos. Ver nascer o sol dentro de um deles é algo de memorável.
Passados uns kms de aquecimento começamos a subir até uma ermida nos arredores de Monsaraz. Uma série de rampas sucessivas que se fazem bem, se calhar por ser no início da prova.
Sempre atrás do Pedro, passamos primeiro por um planalto onde o cheiro a estevas era Rei. Depois primeiro lentamente começamos a descer e de repente o mato cerrado de estevas cede e dá lugar a uma visão que me tirou literalmente o folego. Lá em baixo o Grande Lago abria-se à nossa frente num espelho de água serpenteando entre ilhas e ilhotas.
 
Pasmado com tamanha beleza durante uma descida abrupta, torço o tornozelo. Recupero rapidamente mas fico a rezar para que a entorse não me estrague o resto da corrida.
(não resisti a tirar esta foto enquanto corria, tão ternurenta, não tem outra razão para estar aqui)

Junto ao imenso espelho de água, o perfume das estevas transforma-se em cheiro a poejos. Só me vem à cabeça um arroz de bacalhau com poejos que comi há uns anos. Tenho fome e ainda me falta correr cerca de 20 kms.
Passamos cerca de 10 kms a circundar o Grande Lago, sem grandes subidas nem descidas. O silencio à nossa volta era algo de sacral, espalhava-se pelo espelho de água como um Altar telúrico à vida. Por fim um abastecimento (vulgo picnic) pelo caminho, para festejar a Sua Beleza.
 
Depois desse passeio à beira Rio ergue-se uma parede/rampa monumental. Nunca tinha subido uma coisa assim. Pese embora já não fosse a correr, tinha de parar a meio para ganhar força nas pernas. Até o Marcolino, que ficou em 3º da geral me disse que fez a rampa "quase, quase a andar".

Mas no fim a terra brindou-nos com uma vista fantástica.
Novo abastecimento e recomeçamos a descer. Para subir mais tarde.
 

 
Mas a Montanha clamava por mim num desejo de carne contra carne, e num trilho mínimo o meu pé direito prende-se numa raiz. Ainda tenha resistido vários passos em desequilíbrio, mas a gravidade vence a vontade de correr e acabei por sentir a dor deste amor impossível que me sulcava no corpo. Grande tralho! Mas felizmente sem consequências de maior para além de uns arranhões de amor. É levantar e seguir.
Até ao abastecimento do km 20 apanhei os meus companheiros de viagem e fizemos um pequeno picnic no topo de outro monte, onde pela 4ª vez uma senhora nórdica ou eslava, que alcunhámos de Viking nos passava.
Passo a explicar, cada vez que parávamos num abastecimento reparávamos que uma senhora nórdica passava por nós sem parar para beber ou comer. Passávamos metade da etapa seguinte a tentar apanha-la para depois ela nos passar no abastecimento.
 
A cada subida ela evocava “Ai minha nossa senhora” e nós pensávamos, “ela está cansada já a vamos passar…” nada de mais errado. Ela não parava!
(foto à Pro)
 
E assim, depois do último abastecimento, fomos atrás dela, ou melhor foram eles, o Pedro e o Eduardo, que eu já estava a quebrar. Fui deixando-os ir até que quase à entrada de Monsaraz já não os via, mas via a Viking e dei-me uma nova missão: Ficar à frente da Sra!
Segui-a e corri determinado atrás dela. “Ah que ermida tão bonita! Vou parar para tirar mais uma foto.” E lá se foi a viking. Tenho de ir outra vez atras dela.
 
A subida a Monsaraz, contornando o castelo, subindo as ameias fez-se com uma leveza que não estava à espera. Deve ter sido o efeito psicológico de saber que já tinha feito 21 kms e que faltaria pouco. A meio ouço “Minha Nossa Senhora!” a ficar para trás, afinal ultrapassei-a.
Saí da vila, e a descer notava alguma falta de força nas pernas para travar. Mas tinha que subir à Ermida de São Bento, a última subida, o último esforço, o último sofrimento pensava eu. Mas a verdade é que quando comecei a descer por entre os sobreiros doía-me tudo.
 
Não tinha pernas para travar, e estava a ver que me esbardalhava todo. Outra vez. Às tantas ouço uma “Minha Nossa Senhora” a passar por mim. Os dedos do pé, melhor todos os dedos dos pés, a cada passo que tinha a descer e travar, batiam na parte da frente dos ténis e doía-me como se me tivessem a espetar agulhas.
Quando chegamos à civilização, no último km, já quase não conseguia levantar os pés para correr, a estrada em vez de ser de alcatrão era de xisto, o que travava o passo e proporcionava novas sensações dor nos pés.
(quero um relógio da CARMIM)
No final, contra tudo e contra todos, sprintei para ver se apanhava a nossa amiga Viking, mas na recta tive um amigo que 5 metros antes da meta se mete minha frente para me entregar uma mini de cerveja preta.
 
Tempo final: 2 horas e 52 minutos de prova.


P.S. Mensagem da Organização depois de terminada a corrida (dia seguinte)
"COMUNICADO
Foi encontrado um Drone branco caido em Reguengos de Monsaraz, pedimos a quem lhe pertencer que entre em contato com ... "

:)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Oikos Desafio 100, Edição 2015



O "Oikos Desafio 100" é uma prova dupla em que se pretende, por um lado, desafiar a capacidade física dos participantes e, por outro, a sua capacidade de mobilização social. Trata-se pois de uma prova que inclui um duplo desafio: o físico que consiste num percurso pedonal de 100km e o solidário (facultativo) que consiste na superação de pequenos desafios que serão lançados às equipas inscritas que poderão dar lugar a prémios.
A prova decorrerá em 2 dias: A primeira etapa de 50 km terá início em Ribamar, Lourinhã às 9h00 do dia 18 de Abril de 2015 e terminará às 21h00 do mesmo dia na Assafora. No dia 19, às 9h00, terá início na Praia do Magoito a segunda etapa de 50 km que decorrerá até acabar no Estádio Nacional do Jamor. Terminará no Jamor após a chegada de todas as equipas.
Este ano existe também a possibilidade de participar individualmente, percorrendo os primeiros 12,5 kms, o que proporciona a oportunidade de qualquer pessoa participar na prova mesmo não fazendo parte de nenhuma equipa.
O "Oikos Desafio 100" tem como objetivo chamar a atenção da população portuguesa para o trabalho da Oikos em Portugal e, em concreto, angariar fundos para a construção duma plataforma digital que constitua um mercado eletrónico de proximidade para produtos hortofrutícolas. Isto será possível estabelecendo a ligação entre os pequenos produtores agrícolas de uma determinada localidade, os pequenos comerciantes e o consumidor local desses produtos (incluindo as Instituições de Solidariedade) para evitar o seu desperdício na fase da produção, favorecendo assim a agricultura familiar e a economia rural portuguesa.
Poderá obter mais informações no site: http://www.oikosdesafio100.pt/
Por favor, divulguem este evento a todos os potenciais interessados.
Obrigado.
Bons treinos e boas provas!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Trail de Monsaraz - Uma crónica que não é de corrida



 
O almoço de sábado lançava o mote para o fim de semana perfeito - pennes de azeitona com tomate cherry fiambre salteados, salsichas de peru e queijo. Já tinha saudades de a dieta me deixar cozinhar massas.  De sobremesa, um  episódio da guerra dos tronos.

O Eduardo e o Pedro foram-me buscar às 14:30 e os três estarolas seguiram viagem até Monsaraz num silencio alimentado pelo calor e pela digestão. Pouco a pouco, as palavras e as frases iam-se formando e a galhofa instalando-se. Dado que há muito tempo que não faço trails, fizemos o resto da viagem a discutir as últimas experiencias de Trails na região centro, Sicó e Vila Velha de Rodão.
 

Monsaraz recebeu-nos com um final de tarde que, com a luz e o calor, massajava o corpo de dentro para fora até um estado de langor geral. Instalamo-nos numa Hotel com um quarto (2 camas individuais atenção, nada de bocas) e uma sala com cozinha (uma cama demasiado pequena para mim mas ideal para os outros dois).

A casa e o Hotel Rural eram muito castiços. O hotel compunha-se de várias casinhas em estilo alentejano, com 2 piscinas, uma para miúdos e outra para graúdos. A vista do hotel era deslumbrante, principalmente para o alto do castelo. Isto hoje parece um blog de viagens.
(a luz encandeia)



(o calor amolece)


(reparem no pormenor da cria no ninho)
Muito timidamente pedimos para antecipar o pequeno almoço para as 8:00 (começaria às 8:30), no dia seguinte aprenderiamos que o hotel tinha sido tomado por trilhistas.

(os três estarolas)
 
 Dado que isto dos trails não é só corridas, ou seja, isto dos trails é corrida, isto dos trails é património cultural e paisagistico, isto dos trails é contacto directo com a natureza, isto dos trails é gastronomia, isto dos trails é companheirimo e isto dos trails é auto conhecimento. Por isso esta crónica não é sobre corrida.
(Eduardo o responsável pela maioria destas fotos)

Saímos e fomos dar uma volta (re)conhecer a vila medieval de Monsaraz, vila que se esperguiça no topo de um monte que se ergue por cima do Grande Lago Alentejano. Havia gente, muita gente, principalmente Espanhóis. Ficamos a conhecer todos os recantos e cruzamentos entre aquelas ruelas de xisto e as casas caiadas.
 
Sem querer os nossos olhos iam tomando nota dos diversos restaurantes típicos. Todos com um excelente menu e vista, quer para o grande lago do Alqueva quer para o vale que fica do outro lado do monte. Fomos até ao castelo e à arena de touros que está integrada nas muralhas do castelo. Passamos a este passeio em Monsaraz a tirar fotos.
 
 
O próximo objectivo era levantar os dorsais a reguengos, e lá fomos já com mais palhaçada no caminho. A piada do dia foi termos de comprar uns relógios da CARMIM

 

Fomos jantar num restaurante típico (o Aloendro), decidindo secretos ou lagartos com folhas de couve com alho salteadas (muito muito bom). À sobremesa foi um bolo rançoso (doce de gila e amêndoa) acompanhado de umas fatias de laranja. A duas coisas juntas ficavam excelentes com o a laranja a cortar o excesso de doce.
(Excelente)
 
No Alentejo come-se tão bem, é a zona de Portugal onde se come melhor! Mas tão bem, tão bem.  
 
 
(Monsaraz by night)
 
 
(Quem é quem?)
 

 Mas tão bem, que tivemos de ir rapar frio a Monsaraz outra vez para ajudar à digestão e dormir melhor, porque no dia seguinte Monsaraz ia pedir mais de nós do que aquilo que estaria disposto a dar. Mas isso são outros quinhentos.


 
(O Fim do 1º capitulo)