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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Treininho longo... Quinta da Conchas e Estádio Universitário









Era uma manhã simples de Outono, era uma manhã em que o ar trazia uma névoa fresca que deslizava lentamente como um lençol no alvor da cidade, uma manhã onde a humidade e as fragrâncias de seiva se misturavam dentro de mim e alimentando-me um sorriso, nutrindo em mim um querer correr.






Os pinheiros mansos estremunhados do Estádio Universitário receberam-me no que seria o treininho longo da semana, no inicio calmamente, sabia que as suas cercas dificilmente me susteriam se eu queria fazer cerca de 15 kms. Assim, depois de umas voltas desci pela alameda até ao Campo Grande e outra volta depois virei na direcção do Estádio de Alvalade.











As toneladas de copos de plástico que jaziam moribundos no chão, lembravam-me do lixo que tinha ocorrido naquele estádio na noite anterior, pelo que não me demorei por lá e fui pela Alameda das Linhas de Torres adentro.








A minhas passadas sucediam-se leves e despreocupadas, mas ao mesmo tempo fortes e determinadas, orgulhosas com todo o caminho que já percorreram, todo o músculo que já formaram e todas as lesões que já superaram.











Até que por fim entrei na celebre Quinta das Conchas, será que ia encontrar o Ricardo? Sim, o meu plano secreto era sair do EUL ir até à Quinta das Conchas e voltar. Subi o bosque, à esquerda de quem entra, e dei uma volta por toda a Quinta até que à saída da quinta senti uma raiz a chicotear-me a perna por detrás e uma dor imensa no gémeo. Parei ao 9ºkm!






Eu sabia que as raízes da Quinta das Conchas são traiçoeiras (não é Ricardo), mas quando olhei para traz não vi nenhuma raiz, só terra batida. A dor era interna... resolvi voltar a pé para o carro.






No dia seguinte o médico entregou-me uma sentença: micro-rotura do gémeo. Começo a fisioterapia amanhã. Ainda há quem se queixe que está em má forma...






Podia queixar-me que as lesões me perseguem desde o inicio de Setembro e que devia ir à feiticeira, mas as lesões são uma parte da vida, e a feiticeira está sempre a fugir. Grande parte da vida é aprendermos a levantar-mo-nos e seguir em frente.












Porque o futuro, o futuro é o cada um que o faz!











segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Maratona do Porto - Um cheirinho a...

(O Cromo maior)


No lobby do hotel,
O átrio do hotel recebeu-nos com o seu melhor porte altivo, o lobby do hotel era como uma senhora madura de pele alva e que comunicava a sua indisponibilidade para o compromisso com o seu vestido preto com de longas linhas minimalistas. Neste cenário convergiam apenas duas cores, o preto o branco, divididos por longas linhas do mobiliário de design e onde não ousava pousar sequer o mais pequeno grão de pó, carpetes luxuosas em preto e um mármore imaculadamente branco reluzente.
"Sabe qual é a melhor forma de ir para o Parque da Cidade?"
"Olhe, se calhar é melhor fazer como os outros maratonistas que vão a pé. São só dois kms. Quem faz uma maratona faz mais dois..."
...dedo mental
A diferença entre as cores acentuava o efeito de fronteira, os limites, entre o bem e o mal entre o certo e o errado e convidava todo o hóspede a um comportamento civilizado, organizado, observando silêncio da sua posição, como se sentisse a cada passo sentisse que estava a pisar ovos.
Mas todo este espelho falso de luz e sombras foi estilhaçado logo às 7 da manhã no pequeno almoço, quando centenas de hóspedes vestidos de cores garridas, das suas equipas e equipados para ir correr uma maratona invadiram o restaurante do hotel, gerando um caos organizado, divertido, e onde se adivinhava o fervilhar de entusiasmo nos sons que finalmente se ouviam. Estranho, privilegiando a ingestão de hidratos e líquidos. Ninguém tocou no leite...
Parque da Cidade.

Confesso que normalmente não gosto de dizer bem desta cidade, enfim outros futebois, mas a verdade é que os parque desta cidade batem aos pontos os da Capital.
O Outono aqui tem cores mais vivas, os verdes são mais verdes, os amarelos mais amarelos e até os vermelhos são mais vermelhos, salpicado com uma humidade no ar natural daquela zona que me faz sentir maravilhado.

Chegados ao recinto de partida da prova, com uma passagem nervosa pela wc, foi me fácil encontrar os restantes membros da pandilha e aproveitar para largar algum do nervosismo inicial. Dirigimo-nos aos blocos respectivos, acertamos os relógios e ouvimos o tiro de partida. Corremos 100 metros mas recomeçamos a andar, andar numa maratona?
Setembro de 2015
Estava na expo de cócoras, corpo dobrado sobre si mesmo, espírito quebrado, depois de correr 27 kms dos 30 que me tinha comprometido naquele dia. Doíam-me os abdominais e os abdutores nas pernas e mal conseguia alongar.
Nestes dias de preparação para a maratona, experimentei um sentimento novo, para além das dores da pubalgia, sentia um enjoo, um nojo de correr, perdi a vontade de correr, perdi o prazer de correr. Se não fossem os compromissos com os meus companheiros de alcatrão não me apetecia sair para correr. Correr tinha-se tornado um frete, e depois deste treino, então, resolvi para proteger o corpo e a mente, e parei.
Foi tempo de parar, fechar os olhos e olhar para dentro, parar e pensar o que estava a fazer, porque estava a fazer, para e voltar para o básico, para as raízes, para a lama, para o  cheiro húmido da floresta, do sentimento de liberdade, o perfume da seiva, de estar acompanhado de mim mesmo... Deixar que a montanha cuide de mim, que a floresta me alimente esta vontade de desatar a correr trilhos acima com a alegria de uma criança a brincar.
Saída do Parque

Passada a passada vinha acompanhado com o Ricardo, passada a passada vi o Eduardo e o Filipe disparar perseguindo os seus sonhos, passada a passada eu e o Ricardo fazíamos figuras tristes atrás de uma fotografa; passada a passada vi o Pedro ir a correr "na dele" apenas cinco metros à frente, passada a passada convenci o Ricardo a apanhar o Pedro que ia à nossa velocidade, passada a passada apanhamos o Pedro, passada a passada cantei-lhes com o meu melhor falsete em voz alta o "My Heart Will Go On" da Celine Dion (uma private escusam de tentar perceber).
Não íamos a uma velocidade muito elevada, cerca de seis ao quilometro, pelo que aproveitamos os quinze quilómetros para dizer os maiores disparates que nos vinham à cabeça, desde comentar a equipa de Homens-Aranha que nos acompanhavam, até às Frances(inh)as que puxavam "Allez Ricardô"
Sim, quinze quilómetros! Eu e o Ricardo íamos à family race por dificuldades na preparação e o Pedro ia fazer a sua maratona.  Nesta family race apanhámos a parte mais feia do trajecto da maratona, do parque da cidade até ao porto de Leixões seguimos pela zona mais industrial, com grande parte do percurso feito em cima daqueles paralelepípedos irregulares que nos moem os pés. Pelo menos deu para fazer 100 metros a correr de costas...

Já me chateava o Ricardo estar sempre a dizer que eu podia ir à minha velocidade, apetecia-me ir com eles e depois? Ao menos o Pedro está sempre calado. "Vais fazer o último km a sprintar?" - Cala-te e corre, pá! :)
Acabada a corrida, foi a vez de andar 3 kilometros inteiros até ao Hotel. Quando lá cheguei, na entrada, uma corredora saiu de um carro com dorsal ainda na camisola e disse: "Não havia taxis, não havia autocarros, tive que tomar uma carona né? não podia via a pé!" ... doem-me os pés, pensei.
Depois do banho (desta vez tomei, tinha um social depois), dirigi-me ao Capa Negra II para um excelente repasto pós prova,  com a família do Ricardo. Foi tempo de descobrir as francesinhas, e partilhar as experiências da prova.
Para esmoer aquele molho todo acompanhado a batatas fritas, peguei na mulher e fomos passear ao Jardim de Serralves, melhor Serralves não é um jardim, Serralves é uma obra de arte. Fui passear em arte... Já conhecia, e hei-de lá voltar. é dos recantos mais bonitos construídos pelo homem em Portugal.

Já com a alma lavada, eram cerca das 18h quando estacionei na Rua Arqº Marques da Silva para uma ultima celebração da amizade em familia no Capa Negra II (Outra vez!). Durante três horas foram servidos sorrisos e gargalhadas acompanhados de gritos de crianças, e regados com brincadeiras, biberões atirados à cara e declarações de amor em público. É fácil...
Em breve há mais...