Tal como o nemátodo está para o
pinheiro, desde a corrida da árvore que o bichinho de Monsanto tinha ficado cá
dentro a corroer-me para ir correr para aqueles trilhos.
Mas uma pessoa acostuma-se a ter
uma série de ações, pensamentos e comportamentos que não lhe causam nenhum tipo
de medo, ansiedade ou risco, acabando por ir treinar sempre no mesmo sítio, é
como se fosse uma maneira de evitar problemas. O que se por um lado lhe garante
um desempenho constante e nos dá uma falsa sensação de controlo, por outro este
medo limita-lhe o crescimento.
Como se fosse uma prisão onde a porta está aberta mas nós temos medo de sair e assim, continuamos ali. Sinto-me insatisfeito na minha relação com a estrada e se eu adoro correr em floresta, em montanha, porque não o fazer? Se é o que me faz feliz… Esta falta de conforto da felicidade acontece porque a surpresa é um elemento chave do bem-estar.
E neste fim-de-semana tive
finalmente a coragem de sair da minha zona de conforto e avançar para deixar
que a minha paixão platónica por trilhos
começasse a ser mais… carnal.
Sim, fui correr sozinho para
estes trilhos… e agora ouço a voz da minha mãe…
Sim mãe, já sei que é coisa que
não se faz…
Sim mãe, podia ter acontecido
qualquer coisa e eu não tinha ajuda…
OH MÃ PARA! E depois? Eu queria
estar com a cabeça sem companhia, sabe-me bem de vez em quando. Não me torno
misógino por causa disso pois não?
Cheguei à Alameda Keil do Amaral
e não conhecendo a zona, resolvi adotar uma estratégia de exploração em
estrela, no sentido dos ponteiros do relógio, indo e vindo ao centro da alameda
onde sabia existir água. Tinha como objetivo inicial fazer 18 kms em corrida.
Quando comecei a correr, confesso
que senti uma ansiedade inicial por percorrer aqueles caminhos desertos, ou se
calhar não tão desertos quanto isso. Muitas famílias povoavam a zona em redor a
alameda, mas não tinha sido para correr aí que eu tinha vindo, vamos para os
trilhos.
(aqui ainda é meio civilizado)
(eu vou por ali)
(os cheiros)
(hmmm lama)
(aqui vou para a selva mediterrânica)
(cada vez mais esguio)
(embrenha-te)
(aqui já não há trilhos possíveis)
Após umas quantas voltas
começo-me a sentir confiante e a descobrir uma zona de mata densa de sobreiros
onde me enfiava repetidamente, perdendo-me em trilhos mínimos, levando com
cumprimentos arbóreos na cara, saltando por cima de poças e de raízes, até que
de vez em quando me deparava com a visão horrível da civilização.
(Arghhh tempo de voltar para trás)
Só me perdi 3 vezes,
Só fui arranhado por silvas 2.956
vezes
Só levei 397,5 chapadas arbóreas
Só engoli 19 moscas, 6 abelhas e
um besouro (da próxima vez já sei que não é preciso levar gel para reabastecer)
por correr de boca aberta
Só fui picado 87 vezes por melgas
e 25 por vespas
Só me esqueci de ligar o relógio
GPS 3 vezes depois de parar para tirar fotos, sou um sensível à beleza da
natureza.
Nem sequer fui mordido por uma
víbora
Nem sequer tive que fugir de um
Veado (?!?!?!)
Foi giro
(anote-se que algumas das
situações elencadas são de natureza puramente fantasiosa com o propósito único
de aumentar o dramatismo)
Zémi: Ainda hei-de ir correr para
Sintra…
Mãe: Não faças isso que te aleijas!!!
Zémi: Prontos um destes dias levo companhia.
Mãe: Companhia? O que é que os pais da
companhia fazem?
Mã… pára!