Decidi decrescer ao
mínimo a actividade física (vulgo, treinos de corrida).
Está na altura de “pagar”
os vários créditos que obtive com treinos matinais, corridas de manhãs inteiras
e fim de semanas de deslocações e provas fora de casa.
E claro, esta inercia
casmurra afunda-nos no sofá e faz-nos querer que temos uma fome insaciável.
Vivem-se portanto tempos
difíceis e perigosos.
Nesta manhã em que
escrevo, decidi fazer um balanço do passado próximo, do presente imparável e do
futuro desconhecido (ou quase desconhecido).
Vá, Caro
leitor/atleta/amigo, puxe dessa cadeira e sente-se aqui na minha mesa com vista
para o parque. Falta-lhe alguma coisa? Vai buscar um café/chá/bebida fresca ? Muito
bem…….eu espero!
O que foi……..!
Quando em Dezembro/2014,
perguntei, cá em casa, qual era a possibilidade de me ausentar alguns dias,
para participar na maratona de Liverpool, longe iria eu de imaginar que nas 48
horas posteriores teria uma resposta positiva.
Comecei logo nas minhas
planificações para tal participação.
No início do ano já tinha
a viagem comprada, a inscrição efectuada e a logística afinada! Um bom pronuncio
para uma grande corrida!
A cidade de Liverpool já
não era um “bastião” desconhecido. Afinal tinha-a visitado na 1ª (e única)
participação fora do pais. http://jrr-desporto.blogspot.pt/2013/06/road-to-manchester13-vagas-de-corrida.html
E de novo a dupla Tó/Denise
iria disponibilizar as acomodações!
O plano de treinos para a
maratona de Liverpool estava na 1º semana de Janeiro fechado e pronto para
concretizar.
Não vou somar km´s,
indicar estatísticas, analisar desvios ao planeado. Isso é um campo que o Rui
(aqui do blog) domina. Apenas vou fazer um exercício retrospectivo de
lembranças:
- Em Janeiro participei
na corrida do Fim da Europa (com um nevoeiro maravilhoso) e o trail de Bucelas
(com uma lama terrível).
- Em Fevereiro, o trail
de VV de Rodão (um mimo de trail), os 20 Kms de Cascais (com o Atlântico como
companhia) e o trail de Sicó (que prova……..e que abastecimentos!)
- Em Março surgiu o bom
tempo e nas Lezírias foi uma corrida de farto calor! No final do mês novo
trail. Desta vez em Monsaraz, um trail em pleno Alqueva.
-Em Abril a Clássica
Cascais-Lisboa pela marginal a fora, a corrida do Glorioso (o prenuncio da
conquista do campeonato) e a corrida da Liberdade (para não esquecer das coisas
essenciais da vida) preencheram o mês.
-Em Maio, começou o
nervoso pré/maratona. Para além dos treinos longos ainda houve tempo para os
trilhos das Lampas (ao pôr do sol nas arribas do Oeste) e o trail de São Mamede
(onde comer e correr são os grandes objectivos).
- Chegamos a Junho.
Depois da corrida do Oriente, desacelera-se o ritmo e a intensidade das
corridas. O dia 14 de Junho aproximava-se ……………..
- Liverpool
O viagem para Liverpool
foi feito em companhia dos fundadores do Correr Lisboa, que também iam
participar na maratona.
Quando eu e o Eduardo
chegámos no aeroporto de Lisboa, com o check in online efectuado, já o Pedro
Ribeiro lá estava, cheio de ganas.
Fizemos um daqueles
almoços que qualquer atleta guarda para si, em segredo, (Macdonalds). Hambúrgueres
e batatas fritas á parte, valeu pela conversa.
Sabíamos que o Pedro
Ribeiro iria nos (literalmente) bombardear com as suas expectativas sobre a
maratona. O homem tinha feito uma preparação super especial e mesmo diminuído
fisicamente, por causa da participação numa prova de areia, augurava um
resultado/ tempo que nos iria deixar para trás.
E assim, foi em grande
descontracção que, quando nos pusemos em cima das nuvens, sacámos dos phones e
deixámos o Ribeiro a falar sozinho (a pensar sozinho)!
A chegada a Liverpool foi
mais macia que uma almofada de penas, mas para variar……………estava nublado e
algum frio.
Foi nesta altura que
percebi que trazia comigo mais qualquer coisa que apenas saudades. Na manhã
seguinte iria saber o quê.
Mas até lá foi um resto
de dia espetacular.
No aeroporto tínhamos os
manos Rocha à nossa espera, bem como o nosso carro alugado, que nos iria levar
ao nosso destino: Runcorn.
Fomos dar uma volta a
Liverpool ainda nessa tarde (o aeroporto fica fora da cidade). Comemos um
lanche reconfortante e demos um giro no centro da cidade.
Na volta para Runcorn,
fomos ao supermercado buscar os mantimentos para o jantar e pequeno almoço do
dia seguinte.
Nesse dia, ainda fomos
buscar o Filipe ao aeroporto de Manchester que chegava no voo das 21h. E assim
já tínhamos a equipa completa.
Na manhã de Sábado
levantei-me bastante cedo. A luminosidade extra de quem está mais longe do
equador e um travesseiro diferente convenceram-me a fazer um treino lento e
ligeiro na localidade. Todo o restante pessoal dormia. O mesmo se passava lá
fora. O comércio local ainda estava fechado. As estradas estavam por minha
conta.
Foi no final dos 5 quilómetros
de treino que percebi que tinha trazido uma virose marada lá de casa. O treino
acabou com um sprint para o WC. Apartir deste momento, os meus bolsos estariam
sempre em stockagem permanente com papel higiénico, guardanapos e afins. Isto
era coisa do bebé lá de casa.
Qualquer saída para
passeio incluía sempre um estudo preparatório dos WC´s disponíveis. A fome
foi-se desvanecendo ao longo do dia. Apenas a garrafa de água tinha o seu uso.
O dia que seria de
passeio e entusiasmo foi um suplício para mim.
Saímos de Runcorn a meio
da manhã e depois de tomarmos o 2º pequeno almoço, fomos levantar os dorsais. O
local situava-se nas imediações do início da maratona (Centro de Exposições –
Albert Docks). Uma dúzia de stands constituíam a feira de atletismo do evento.
Em relação à t-shirt da prova, um grande desânimo: Não se tratava de uma tshirt
“finisher” (dada apenas aqueles que efectivamente acabam a prova), era de uma
marca…………..fraquinha (Rolly). Para o preço que pagámos pela inscrição (…..)
e pela experiência da empresa/organização dos eventos Rock and Roll Marathon,
esperava-se um merchandising de mais e melhor qualidade. Nem se quer o saco,
para deixarmos os pertences no inicio da prova, tivemos direito.
Fizemos um passeio na
área comercial na baixa de Liverpool, visitámos as lojas do Liverpool FC e do
Everton FC. Nesta altura respirava-se atletismo e o nervoso miudinho já era
persistente.
Entretanto depois de umas
4 idas ao wc, tive que pedir com muita veemência que me deixassem em casa.
Tinha que me sentar e descansar e sobretudo estar ao pé de um wc. Também não
queria empatar o passeio.
O final da tarde foi
feita entre o sofá da sala e o wc. Na TV dava um escaldante Republica da
Irlanda vs Escócia. Via-se mais
wrestling do que futebol.
Começava a duvidar da
participação na maratona do dia seguinte.
42 quilómetros, eram
muitos quilómetros. Correr com uma tempestade intestinal destas seria muito
difícil. Desde sexta feira ainda não tinha tido uma refeição de jeito. Tudo
apontava para uma desistência antes da partida.
E foi à mesa que nos
juntámos todos novamente. Tínhamos preparado uma pratada de esparguete à
bolonhesa. A excitação era geral. Marcava-se as horas de saída para a corrida,
o sítio de estacionamento, o local de encontro no final.
Fiz um esforço herculiano
para comer um prato do repasto. Não tinha apetite. As minhas esperanças em
participar na corrida eram cada vez mais diminutas. Seria uma pena. Dinheiro
gasto na inscrição e viagens. Dias de férias desperdiçadas. Meses de preparação
pela “borda fora”.
O grande Tó, deu-me um
comprimido minúsculo branco. Disse-me que se chamava “Dimicina” e era para os
desarranjos intestinais. Olhem com desdém para o comprimido. Engoli-o e fui
para a cama. Desconsolado.
- Prova
(O relato seguinte é
dedicado ao Pedro Ribeiro, O MAIOR!)
Eu não sei se existe
algum santo ou santa protector(a) dos corredores. Se não houver, deixo já aqui a
minha sugestão: Santa Dimicina!
Foi com (espantoso) vigor
que acordei e me levantei da cama.
O dia já se tinha tornado
manhã (menores latitudes, noites mais pequenas).
Nada de cólicas, sensações
estranhas na barriga ou mesmo necessidade de evacuar.
Não sei se estava
“curado” do desarranjo, mas o que é certo é que naquele momento até conseguiria
correr uma maratona! Que feliz coincidência!
Peguei na minha tralha e
desci as escadas. Aos poucos a “casa” ia acordando.
Iniciei o meu pequeno
almoço merecido e aos poucos foram-se juntando os restantes corredores. As
conversas iam gradualmente subindo de tom. A animação também!
Os manos Rocha iam à meia
maratona que partia uma hora antes da maratona e por isso tivemos que sair mais
cedo de Runcorn.
Pelo sim pelo não, antes
de sair fui roubar algum papel higiénico que bem dobrado ficou no bolso dos
calções. Só para o caso de haver
necessidades.
O plano estava montado da
seguinte forma: chegar a Liverpool e estacionar o mais perto possível do início/fim
da corrida; deixarmos os manos Rocha no pelotão da meia maratona e
dirigirmo-nos para o local de entrega dos sacos com os nossos pertences; o restante
tempo livre até ao início da maratona seria para aquecer.
A manhã apresentava-se
fria (o vento que vinha do rio Mersey trazia um frio matinal característico
destas latitudes).
Devia ter trazido algo
mais quente para me poupar a calafrios e arrepios. Felizmente o Filipe
emprestou-me uma tshirt de manga comprida.
Tirando o frio até à
partida, tudo na normalidade.
Nada de wc´s, nada de
vácuos intestinais. O meu plano seria ir de 5 em 5 quilómetros , que coincidia
com as casas de banho disponíveis. Se entretanto algo corresse menos bem (i.e. mal disposição) ficaria ali mesmo nos abastecimentos.
A ideia da organização em
utilizar o centro de congressos (semelhante ao Meo Arena), para estrutura de
apoio dos atletas foi estupenda.
Só entravam os atletas e
staff da organização. Havia wc´s espaçoso, muitos bengaleiros para guardar os
sacos e uma vasta área para aquecer, e sendo coberto, para não arrefecer com o
frio exterior. Não apetecia sair.
A hora chegava e os 4 magníficos
tinham que se pôr a caminho. Uma das sensações que guardo é da saída do
edifício. Era um mar de gente que no exterior esperava pelo início da prova
………………..e também um vento cortante. Tinhamos que começar a correr o mais
depressa possível.
Como a partida era feita
em vagas (e nos estávamos na 8ª vaga), ainda tivemos que esperar um bocado. Mas
lá está, era uma vaga bem composta portanto, o vento não chegava a quem no meio
estava.
O Ribeiro e o Filipe
seguiram a toda a velocidade. Fiz dupla com o Eduardo e seguimos rumo a
Goodison Park. Apanhámos as vias principais e foi uma subida lenta até ao estádio
do Everton FC. Quanto mais distanciávamos da baixa de Liverpool, mais as vistas
se transformavam em subúrbios. Notava-se pelas construções e pelas pessoas, mas
levo cá dentro a memoria dos aplausos sinceros e efusivos daquela gente. Começo
a perceber donde vem o ambiente quase opressivo quando vejo os jogos do clube
local.
O estádio, que faz
lembrar o do Boavista, localizado entre casas, pode passar despercebido.
Logo a seguir passamos
por Stnaley Park, um parque espetacular. Lagos, patos e uma relva a perder de
vista. De facto, não há como os parques britânicos.
De seguida e (com
esperanças de ver o estádio de Enfield Road) regressámos a Liverpool.
Infelizmente, não foi possível ver o estádio. O itinerário passou um pouco fora
da zona e portanto mais uma vez não consegui visitar a casa do Liverpool FC.
Entretanto, no 16º km,
numa subida acentuada, perdi o Eduardo .
A distância da meia
maratona foi atingida quando passámos pela baixa de Liverpool (até aqui o
itinerário era também o da meia maratona).
Ponto de situação:
- Flora
intestinal-----------OK;
- Cansaço-----------------Ainda
nada;
- Pernas e
joelhos--------------- Já começavam a pedir descanso.
Descanso,
descanso………………..era a palavra que surgia na minha mente, quando passava por
Sefton Park.
Que loucura de parque! Um
enorme parque com lagos e pássaros, caminhos rodeados de árvores. Uma autêntica
floresta oficial da cidade.
Foi aqui que atingi as 3
dezenas de quilómetros. Foi aqui que também encontrei mais corredores,
espectadores e torcedores. Sim torcedores, porque levar uma bandeira de
Portugal e o nome na tshirt, pode ser (é) um motivo para dois dedos de
conversa, efusivas frases sobre o Mourinho ou o Ronaldo ou gritos
motivantes: GO GO PEDRRRRRO!
Ora foi também por aqui
que fiz uma primeira paragem. Tudo por causa da teimosa garrafa de isotónica que
não queria abrir. Foi um fartote de isotónica e agua. O tempo estava ameno e
eram poucas as vezes que o sol espreitava.
Com o fim de Sefton Park
(aos 37º Km) eis que que avisto por fim (e novamente) o rio Mersey. Era a parte
final da maratona.
Era a vez da via
Promenade, uma estrada pedonal paralela ao rio. Felizmente o vento tinha
amainado.
Por certo que os 3 amigos
já teriam chegado e assim sem pressas (até porque as pernas já estavam nas
ultimas e eu já estava cansado de tanta correria) e com o azul (naquele dia
mais cinzento por causa do céu nublado) e o verde da relva pelo outro lado, fui
gastando os últimos quilómetros que faltavam.
Mas eis que ao 39º Km eu
vejo o Ribeiro. Todo ele era sofrimento, era uma mascara de dor e parecia um
soldado ferido em combate. Ironia das ironias, minutos antes do começo ele
tinha atirado esta frase filosófica:
“Existe uma companhia que
nunca te vai abandonar numa corrida, é a dor!”
Já sabia que ele tinha
vindo para a maratona com a perna meio dorida, por causa de uma prova feita na
praia. Pelos vistos, todos estes quilómetros só tornaram a situação pior! Mas o
homem não desarmava e com pequenos passos de corrida, ora olhando para o chão
ou em frente, ele não desistia.
E até passou por mim,
numa segunda paragem minha, tudo por causa de uma cólica, que surgiu do nada e
que me fez pensar que se calhar era melhor ir com mais calma até a meta.
O MAIOR este Ribeiro, que
sacrifício e que vontade!
Quando passei a meta,
estava uma pequena multidão cheia de aplausos e gritos!
No meio deles estava a
família Rocha, com uma máquina fotográfica em punho. O cansaço tomou conta de
mim. Era hora dos abraços, das fotos e da bendita medalha de participação.
Fui recebido pelo Filipe
e o Eduardo.
O Filipe tinha chegado
com 3h53 e com uma bandeira de Portugal desfraldada ao vento.
Mais, tinha feito um
vídeo em modo “selfie” da chegada. O Speaker tinha-o baptizado de “The
Portuguese”.
O Eduardo tinha chegado
10 minutos depois.
As minhas 4h30 minutos
foram das últimas coisas em que me preocupava. No início da prova as minhas
verdadeiras preocupações eram: as pernas e a barriga!
Quando acabei a prova
tinha ganho uma nova preocupação: O Ribeiro.
E por isso, foi em grande
delírio que vimos o Ribeiro a chegar e ainda a correr!
Que grande alma! Nada,
nem ninguém sabe o que ele passou!
Foi ao som dos Rolling
Stones que entrámos no pavilhão para relaxar, hidratar, esticar e levantar os
nossos pertences.
Nova saída do pavilhão e
nova maré de pessoas.
Desta vez muito mais
turistas e transeuntes de fim de semana. Afinal era uma tarde de Domingo!
A volta para Runcorn
seria feita em grandes conversações. Seria um resto de dia a comer (o gasto
normal na maratona ultrapassa facilmente as duas mil calorias), a descansar
(sobretudo os pés e pernas) e a conversar (a intensidade do evento assim o
determina).
Felizmente que,
entretanto, o carro da equipa tinha sido recolocado mesmo ao pé da meta. É que
a Santa Dimicina tinha deixado de fazer efeito. A sanita voltava a ser o meu
local de descanso e de reflexão!
Mas com mais ou menos
cólicas, esta maratona já ninguém m´a tirava!
O que está a ser
Cansaço ou simplesmente
preguiça. Q que é certo é que o período de férias às corridas estendeu-se para
Agosto. E assim só no início de Setembro é que iniciei o novo plano de treinos.
O objectivo é o mais depressa possível retomar os treinos/provas longos(as)
(entre 20 a 25 kms). Não consegui ir à meia maratona de São João das Lampas.
Entretanto participei na meia maratona de Setúbal. Em lista para participação
estão a meia maratona da Moita, a meia maratona da ponte vasco da gama e os 20
kms de Almeirim. E ainda algures no mês de Outubro, um treino “longuíssimo” de
até 35 kms.
Não é fácil com tanto
calor, o corpo quer é praia! Vale pelo treino mental, também necessário
para…………..o que ai vem!
O que ainda está para
vir!
Ah o Porto!
A ribeira, a ponte D.
Luís e…………..as francesinhas!
A 8 de Novembro, novo
desafio pela frente.
É o regresso ao Porto e
às maratonas.
O ano passado deixou tão
boas recordações que desta vez, regresso com amigos do SSCGD e do Clube de
Corrida. E desta vez com os respectivos agregados familiares. Vai ser casa
cheia!
Este ano o início e a
chegada será no parque da cidade. Espero que desta vez sem chuva. E espero que
haja refeição de massa, que eu no ano passado troquei-a por uma francesinha.
Mas não fiquei a perder!
Vai ser bom regressar ao
Porto………………carago!
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