Os primeiros sinais do outono já
se tinham instalado, o calor confortável do estio tinha partido, sem dizer
adeus e já não tinha esperança que ele voltasse. Os céus já tinham chorado
pelas primeiras vezes e a terra húmida já me trazia aquele cheiro nostálgico
que me lembra sempre de alguém e/ou me dá saudades de um tempo muito distante que
não chegou a ser.
No chão, os primeiros rebentos
verdes cresciam rasgando por entre as fendas a crosta castanha ressequida e dançavam
por entre folhas desesperançadas até aos nossos pés. Noutros blogs de corrida pessoas escreviam
textos de propósito para me fazer inveja com provas na montanha. Era Outono!
Assim, aproveitando um teórico
verão de São Martinho dirigi-me à Costa da Caparica para passar um tempo
relaxado na Praia do Rei. As dunas apresentavam-se com uns penteados com novas nuances de verde e a natação e o ginásio
durante a semana tinham-me enchido o corpo e mente com saudades do prazer da
corrida. Trouxe uns ténis velhos de corrida e, se estivesse maré vazia, iria
correr.
Estava maré vazia…
Calcei os meus velhinhos adidas
questar, que me conhecem tão bem e em quem eu confio para me guiarem e dirigi-me
para onde “as ondas quebravam uma a uma, eu estava só com a areia e com a
espuma, do mar que cantava só para mim.”
E naquela planície de areia
espelhada que partia do meu âmago e só terminava na Lagoa de Albufeira pus um
pé à frente do outro, depois inverti a ordem, acelerei e aí fui eu.
Corri sem me importar com ritmos
ao km ou com o que as pessoas pensavam, por ser o único de tshirt vestida,
afinal não gosto de mostrar a minha barriga a saltitar a cada passada. Só
queria 15 minutos, não pedia mais. Corri para correr, corri para voar, corri para
me sentir livre. Corri só para mim.
E deparei com uma nova experiencia,
conhecem o prazer da descoberta? É isso! O ar, o piso, a vista… na praia é tudo
tão diferente. Há qualquer coisa de trail em correr na praia.
A areia é um pouco mais fofa, o
que permite absorver algum do impacto ao mesmo tempo que desenvolve a força
muscular da perna, mas não permite grandes velocidades. O ar à beira-mar é
diferente do da cidade, mais fresco, mais salgado, enfim mais respirável.
A vista é arrebatadora, as
arribas fosseis da Costa criam um ambiente entre o azul do céu, o verde do
pinhal o amarelo forte das arribas, o verde das dunas, o amarelo da areia, o
azul do mar que se liga ao azul do céu e o ciclo começa outra vez. Se ouço
alguém a comentar outra vez que quer transformar toda aquela zona numa cadeia
de hotéis estilo Miami Beach, queimo-lhe os genitais com um ferro em brasa.
À medida que me ia desviando dos
cães que passeavam os respetivos donos, conclui também que o índice de topless
naquela praia se mantinha estável ao longo do ano, mesmo quando se reduz o
total de afluência, o que aliás só serve para aumentar a sua visibilidade. E
reparei que não corria sozinho.
Passados 15 minutos apetecia-me
continuar a correr, mas a razão mandava-me parar. Não podia esforçar demais os
músculos. Parei, tirei os sapatos e pé ante pé entrei caminhando na água, senti
uma espuma fria a massajar os pés a ferver, depois a envolver-me gémeos acima e
calmamente pelas coxas, e seguiu-se outra descoberta: A massagem das ondas
frias nas pernas quente e corpo cansado depois da corrida é algo de divinal.
Devo ter ficado a mirar o horizonte com a água pela cintura durante dez
minutos. Depois de uma corrida é tão bom ficar ali a marinar no vai-e-vem da
água.
P.S. Depois da emissão desta
crónica as praias da costa ficaram vazias.
Ahah, muito bom! Agora fui eu que fiquei com inveja de poderes ter treinos destes durante a semana... Quando chego a casa já está de noite. :(
ResponderEliminarSim, tens de repetir mais vezes. :)
Olá, por acaso o treino foi num fim de semana no verão de são Martinho. Mas obrigado. Tenho de fazer mais vezes.
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