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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Treino de São Martinho - Correr na praia


 
 
Os primeiros sinais do outono já se tinham instalado, o calor confortável do estio tinha partido, sem dizer adeus e já não tinha esperança que ele voltasse. Os céus já tinham chorado pelas primeiras vezes e a terra húmida já me trazia aquele cheiro nostálgico que me lembra sempre de alguém e/ou me dá saudades de um tempo muito distante que não chegou a ser.
No chão, os primeiros rebentos verdes cresciam rasgando por entre as fendas a crosta castanha ressequida e dançavam por entre folhas desesperançadas até aos nossos pés. Noutros blogs de corrida pessoas escreviam textos de propósito para me fazer inveja com provas na montanha. Era Outono!
 
Assim, aproveitando um teórico verão de São Martinho dirigi-me à Costa da Caparica para passar um tempo relaxado na Praia do Rei. As dunas apresentavam-se com uns penteados com novas nuances de verde e a natação e o ginásio durante a semana tinham-me enchido o corpo e mente com saudades do prazer da corrida. Trouxe uns ténis velhos de corrida e, se estivesse maré vazia, iria correr.
Estava maré vazia…
 
Calcei os meus velhinhos adidas questar, que me conhecem tão bem e em quem eu confio para me guiarem e dirigi-me para onde “as ondas quebravam uma a uma, eu estava só com a areia e com a espuma, do mar que cantava só para mim.”
 
E naquela planície de areia espelhada que partia do meu âmago e só terminava na Lagoa de Albufeira pus um pé à frente do outro, depois inverti a ordem, acelerei e aí fui eu.
Corri sem me importar com ritmos ao km ou com o que as pessoas pensavam, por ser o único de tshirt vestida, afinal não gosto de mostrar a minha barriga a saltitar a cada passada. Só queria 15 minutos, não pedia mais. Corri para correr, corri para voar, corri para me sentir livre. Corri só para mim.
 
E deparei com uma nova experiencia, conhecem o prazer da descoberta? É isso! O ar, o piso, a vista… na praia é tudo tão diferente. Há qualquer coisa de trail em correr na praia.
 
 
A areia é um pouco mais fofa, o que permite absorver algum do impacto ao mesmo tempo que desenvolve a força muscular da perna, mas não permite grandes velocidades. O ar à beira-mar é diferente do da cidade, mais fresco, mais salgado, enfim mais respirável.
A vista é arrebatadora, as arribas fosseis da Costa criam um ambiente entre o azul do céu, o verde do pinhal o amarelo forte das arribas, o verde das dunas, o amarelo da areia, o azul do mar que se liga ao azul do céu e o ciclo começa outra vez. Se ouço alguém a comentar outra vez que quer transformar toda aquela zona numa cadeia de hotéis estilo Miami Beach, queimo-lhe os genitais com um ferro em brasa. 
 
À medida que me ia desviando dos cães que passeavam os respetivos donos, conclui também que o índice de topless naquela praia se mantinha estável ao longo do ano, mesmo quando se reduz o total de afluência, o que aliás só serve para aumentar a sua visibilidade. E reparei que não corria sozinho.
 
 
Passados 15 minutos apetecia-me continuar a correr, mas a razão mandava-me parar. Não podia esforçar demais os músculos. Parei, tirei os sapatos e pé ante pé entrei caminhando na água, senti uma espuma fria a massajar os pés a ferver, depois a envolver-me gémeos acima e calmamente pelas coxas, e seguiu-se outra descoberta: A massagem das ondas frias nas pernas quente e corpo cansado depois da corrida é algo de divinal. Devo ter ficado a mirar o horizonte com a água pela cintura durante dez minutos. Depois de uma corrida é tão bom ficar ali a marinar no vai-e-vem da água.
Quem sabe se depois de voltar a correr uma hora inteira… Tenho que repetir isto mais vezes!
 
P.S. Depois da emissão desta crónica as praias da costa ficaram vazias.

2 comentários:

  1. Ahah, muito bom! Agora fui eu que fiquei com inveja de poderes ter treinos destes durante a semana... Quando chego a casa já está de noite. :(
    Sim, tens de repetir mais vezes. :)

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    1. Olá, por acaso o treino foi num fim de semana no verão de são Martinho. Mas obrigado. Tenho de fazer mais vezes.

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