Vi-te pela primeira vez de dentro
do autocarro, quando deslizavas por mim com o teu vestido verde, cujas alças
permitiam descobrir a tua pele calcária. Estavas com a cabeça acima das nuvens.
Ignoraste-me, nem sequer olhaste para mim, mantiveste o teu porte altivo e o
olhar pétreo preso no infinito.
Estavas linda... ÉS linda. Havia qualquer coisa em ti que me prendia. Queria chegar até ti, queria falar contigo, conhecer-te mas sentia-me intimidado esmagado debaixo da força que emanava da tua personalidade. Sentia medo, tinha muito medo, mas afinal tremia tanto de quê? Ah, claro tremia da tua rejeição! O que significava que eras mais importante para mim do que pensava.
Tinha que chegar ao teu coração, mas
o meu já explodia dentro do peito quando comecei a correr. Não podia ser em
linha reta, não és um ser simples, és de feitio torto, cheia de camadas e
cambiantes, tinha de ultrapassar a terra batida, passar por rios, por veredas cobertas
de silvas que me rasgam as pernas, por trilhos
em pedra quebrada que me partem as plantas dos pés, de subidas por entre
olivais e sobreiros que me dão chapadas arbóreas. E estás tão cheia de rampas
intermináveis que me moem os joelhos, e me quebram a vontade de correr para
começar a andar...
Mas de tão difíceis que sejam
suportar, adoro todas essas facetas de menina mimada, ou insegura que criou
essa capa dura para se proteger. E pouco
a pouco, metro a metro tu vais te entregando. Primeiro dás-te naquele teu
perfume a terra molhada que me deixa ensandecido e depois quando me deixas
chegar ao cume... desvendas o teu corpo nu perante mim, repleto de curvas, em
paisagens de montes, vales e florestas que me sugam o ar do peito.
E então, já não és uma montanha-menina.
És uma montanha-mulher que caminha lado a lado comigo, que me dá a mão, quando
as tuas raízes se entrelaçam nos meus dedos, que me apoia nas subidas.
Quando pensava que seria uma
relação espiritual de contemplação da tua beleza paisagística, depois de
atingido o cume, eis que se revela uma relação extremamente física, carnal
mesmo. Rebolamos ladeira abaixo, envolvidos um no outro, num crescendo de ritmo,
num sprint descontrolado penetro uma e outra vez nas florestas húmidas que te
ladeiam até eu descer à tua base.
E é, como sempre, contigo por
cima que acabo as corridas, a respiração ofegante, os
joelhos a latejar e os tendões de Aquiles doridos, sem conseguir correr nem
deixar de correr, que saio devagar de dentro de ti. Com o corpo exausto mas em êxtase. Meio morto meio vivo mas muito
feliz.
Conquistador ou conquistado não
interessa, quero estar contigo, mil vezes mil anos estar contigo, rasga-me as
pernas, rasga-me a cara, rasga-me o coração, mas deixa-me estar contigo.
És um naturo-depravado! lol
ResponderEliminarEpah... o tipo de corrida resulta numa experiencia muito mais física. Tinha que sair uma alegoria...secsual
EliminarÉ natural que a Montanha se faça de difícil, somos muitos a disputar-lhe o amor... ;)
ResponderEliminar:):):) Felizmente não somos assim tantos, e cabemos todos no coração dela. É espectacular :D
EliminarÀs vezes envergonho-me um pouco com as metáforas utilizadas, espero não ter ofendido ninguém.
Pena é que seja um amor platónico...
Uma carta com bolinha vermelha no canto superior direito! LOL
ResponderEliminarMontejunto, o local da primeira vez, do primeiro grande trail!
Diverte-te na montanha, diverte-te com a montanha!
Abraço
Joel... :) somos todos adultos... espero... quer dizer eu não sou :p
EliminarAbração
A senhora que estava a ler esta fogosa carta de amor por cima do meu ombro ficou corada:).
ResponderEliminarSerá que também gosta de uma corridinha na Serra???
Abraço
AAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah :) :). Olha, olha se calhar... se calhar....
ResponderEliminarAbraço