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sábado, 28 de fevereiro de 2015

As Sagas do Trail - Trail Território Circuito Centro Vila Velha de Rodão



No mapa, Vila de Rodão é descrita por velha, mas já à saída da autoestrada a melhor descrição seria “estranhamento cheirosa”!

Conseguimos entender, logo na entrada da vila, que tal estranho cheiro (mal cheiroso, diria eu), vinha do complexo industrial que existe lado a lado com a vila. Empresa de celulose que deve dar muito emprego na vila, mas também deve dar muita dor de cabeça, com aquele cheiro impossível de se não dar conta.

Era uma manhã de Sábado, de um fim de semana frio. Logo à chegada a temperatura encontrava-se abaixo de zero, três graus muito frios. Felizmente não chovia.

Eu e o Eduardo decidimos participar nesta segunda prova da competição Território Circuito Centro. A opção foi na distância mais curta (27 Kms). Para os mais entusiastas havia ainda uma distância mais longa (47 Kms).

O ponto de encontro seria na tenda da organização, mesmo no recinto do mercado, mesmo no centro da vila, logo ao pé do rio. Ali levantámos os dorsais e ali ouvimos o briefing. E ali também nos aquecemos. O P Luzio tinha vindo ter connosco. Partíamos todos juntos mas ele iria fazer a volta dos 47 Kms.

Para variar havia todo o tipo de corredores: Grandes, pequenos, gordos e magros, barbudos e carecas, com uma singela garrafa de água na mão e outros com a “casa as costas”.

E foi as 9 horas em ponto, que partimos para o “passeio”. O local de partida seria também o final. O frio era cortante, por isso foi com contentamento que comecei a correr e passei o portal que indicava o início da corrida………






Era sempre a mesma coisa!
Quando saímos do portal traildimensional era o começo do formigueiro nas pernas.
E aquela missão deixava-me nervoso!

Rondum, A terra celulósica!
Conhecida pelos poços de fumo, Vila do Rei Vamba!

“Torr, Edur, …..atenção aos buracos do chão! Encontramo-nos no final, depois do portal! Boa sorte!” – Luzinix, o Raider da volta maior, acenava-nos e galgava caminho, como tivesse molas nos pés.

Pertencíamos ao Grupo dos Regulares. A nossa distância era metade da dos Raiders. Isto porque eles teriam que “varrer” a parte de fora da Vila, mas ambos acabaríamos por atacar o Castelo do Rei Vamba. Em alturas diferentes, claro, mas com o mesmo objectivo, a tomada do castelo.

Reparei que varias casas compunham o pelotão dos Regulares e mesmo assim ainda haviam vários que vinham por conta própria.

Em pensamento agradeci os conselhos dos meus mestres.
Levava o emblema da Grande Casa Geral da Caixa, que depositavam grandes esperanças na nossa perícia e vontade.

Todos levávamos as vestes mais florescentes, serviam pra confundir o inimigo e identificar  os aliados. Contornámos as “bocas de fumo” e metemo-nos pela vereda verde.

Meteo* deveria ter adormecido, pois apenas estava frio. Felizmente esquecera-se de soprar naquela zona.

Algum tempo depois vislumbramos o Druida Cincoquilometrix.
Apenas acenámos e prosseguimos caminho. Aquele apoio era apenas para os Raiders.
Passámos paralelamente à grande estrada que ligava o mar às Terras Altas. Aquela hora ninguém a utilizava.

No briefing, antes da partida, tinham-nos avisado para aquilo que seria a primeira prova de ferro e fogo, a subida à Casa de Eletricidade. 300 metros perigosos!
Por Kronos**, era tão íngreme como perigoso. Qualquer desequilíbrio poderia ser fatal!

Fiquei atónito. Pareceu-me ouvir o Mestre Geral a gritar “as vossas pernas são as vossas armas……………por isso ………..toca a lutar!”
Não, era mesmo dentro da minha cabeça!

Quando comecei a subir já o Edur ia a meio.
Apelei ao Deus Bélico*** e comecei a subir.
Lá em cima, alguém marcava o ritmo com a buzina de motivação. Às tantas tornou-se irritante.
Ao fim, já me apetecia tirar o barrete e as minhas vestes protectoras. Mas depois lembrei-me de outra frase emblemática: “ Destapa-te sem cuidado e pelo frio de Meteo és apanhado!”

Passei a minha atenção para as vistas. Soberbas! As montanhas limítrofes aconchegavam Rondum. Aproveitei para beber agua.

De seguida, olhámos em frente, antecipando o que viria a seguir.

Logo ali à frente, a Casa de Eletricidade era tocada por uma estrada de asfalto que nos levava próximo das Vilas Ruivas, misteriosamente amaldiçoada pelo Rei Vamba. Um ponto critico na nossa aventura.

A descida era rápida e com o asfalto a tocar-me as botas, tudo era ainda mais fluido. Parecia um escorrega negro.
Novamente terra batida mas antes ainda passámos pelo Druida Onzequilometrix. Trazia apenas água, mas calhava mesmo bem. Já tinha o meu cantil vazio.

Estávamos perto das Vilas Ruivas. Conta-se que o Rei Vamba, sabendo que os guerreiros das Terras Altas desceriam para atacar o seu território, transformou as mulheres deste sitio em belas damas ruivas, direccionando o interesse inimigo para outra zona que não o seu castelo. O plano foi tão certeiro que ele decidiu que o feitiço deveria perdurar até à eternidade, ficando a salvo de futuras investidas  dos povos vizinhos.

Sabíamos desta historia e por isso, quando entrámos na aldeia, pusemos as nossas lunetas antifeitiço com lentes negras e anti UV e raios solares. Assim conseguimos passar pelas belezas da vila, sem “perder o norte  e o trote!”.

No meio da aldeia encontrámos o ultimo druida da nossa viagem. Dezasseisquilometrix chamava-nos, mas algo fez-nos redobrar a atenção.
Oh não ……..o druida tinha sido corrompido, pois na mesa estavam uma panóplia de caldos e elixires. Demasiados. A tentação de comer e beber todas aquelas “relíquias” era grande. Ao meio um pote de um tentador doce de chocolate deixava-me nervoso!
Não……….não….., isto é mais esquema para nos fazer parar.
Moderação, moderação e muita atenção!
“Edur, come o mínimo, enche o cantil e vamos embora!”
Os salgados hipnotizavam o pobre do Edur!
E o banco ali ao lado, parecia convidar a repousar………..para sempre!

Foi com grande  esforço e concentração que saímos (fugimos) de Vilas Ruivas.

Voltámos a descer agora em direcção ao adormecido Velho Tagus.
Adormecido, mas não esquecido.
Diz a lenda que para não esquecer quem o visita, o Velho Tagus deslumbra de tal maneira os seus visitantes, que são estes que o não conseguem esquecer.
Por isso voltámos a pôr as nossas lunetas antifeitiços.

Passámos pela Fonte das Virtudes, local onde as mulheres da Vilas Ruivas se tornaram esbeltas, sob o olhar do Rei Vamba, lá no alto do seu castelo.
Foi para lá que olhei. Estava ali, o nosso objectivo. Bem perto, mas com muito para subir.
E a subida estava mesmo ali, mas antes vislumbramos as Portas de Rondum, talhada, diz a lenda, pela própria Terrana**** às escondidas de Kreator***, de forma a proteger os povos gloriosos de outrora.
Já estávamos cansados mas os cerca de 6 Kms, que ainda faltavam até ao portal de chegada, seriam duros.

E a subida até ao castelo do Rei Vamba, começava já ali.
Era uma subida perigosa, teimosa que nem uma cabra prenha!
Subida após subida, trilho após trilho, começávamos a ver o Velho Tagus de cima.
Mas cada vez era mais difícil.
As pernas fraquejavam de cansaço e as árvores eram apoios preciosos para descansar e para ganhar equilíbrio.
A meio um rio de pedras rolantes empatava os nossos passos e conquistavam os mais fracos.
A maldade do inimigo fez-nos duvidar do caminho que trilhávamos, pois os sinais orientadores postos na véspera pelos nossos olheiros, rareavam nesta zona.

Mas passada após passada, lá conseguimos tocar nos muros do castelo.
A conquista já tinha sido feita pelos Regulares mais rápidos, o nosso papel seria confirmá-la.

A vista, essa era deslumbrante. Um quadro perfeito.

Mas esta viagem era feita de pressa e portanto toca a fazer a descida até à vila.
Foi altura de perder o Edur de vista.
Descidas como aquelas eram sobremesas açucaradas para ele.
Já sabia que o ia encontrar lá em baixo a tirar pedras das botas.

A seguir mais uma extensão de 2 Kms de chão rochoso.
Era o princípio do fim.

O verde começava a rarear.
Começamos a passar por hortas, casarios e de repente estradas e caminhos.
Estávamos perto, estávamos quase.
Já me via a chegar ao acampamento final, logo após a passagem do portal traildimensional.

Mais umas voltas, que dispensávamos e a recta final apresentou-se à nossa frente.

Seria visão ou conseguia ver, no outro lado, copos cheios de hidrocevada prontos para ser bebidos??!!

“Saiam da frente, deixem passar esses copos são todos para m………………….”




Um abraço à Sra das medalhas, era mesmo isso que eu precisava!
Isso e um sítio ameno para esticar as pernas e descansar o corpo.
E ali estava mesmo ao lado a tenda da organização, com uma mesa cheia de comida e bebida. E logo a seguir chegaram uns doces tradicionais chamados “pantufas”!

E foi de pantufas que enchi as mãos de comida e fui para o chão de descansar.
Merecido para quem Merece!

Pena foi que o duche disponível era afinal de água fria. Isso não foi nada merecido. Foi um dos duches mais rápidos que tomei.

Retornámos à chegada para esperar pelo P Luzio.
Bom e enquanto esperávamos, mais comida foi chegando e nós fomos reforçando a nossa saciedade alimentar.

Ainda bem que não choveu e ainda bem que a corrida tinha sido num Sábado.
Estava a ser um fim de semana bem passado e ainda faltava Domingo.

Ah………..adoro fins de semanas que passam devagar!


* Senhor do clima e do vento
** Senhor do tempo
*** Um dos três deuses, construtores do universo
**** Senhora da fertilidade, Mãe de todas as coisas vivas na terra

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