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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Grande Prémio de Grândola 2014

Circuito José Afonso


Zeca, tu não sabes mas,
 Em bebé mil vezes me adormeceste a procurar a estrela d'Alva;
Cresci como um índio na meia praia, e a madrugada era a minha mãe.
Debaixo de uma Faia Maria, fiz amigos a pedir rodadas de cinco, fosse branco ou tinto
e aqueles amigos maiores que o pensamento, pedia-lhes para trazer outro também.
Na adolescência sempre pensei que os olhos do meu coração
 seriam verdes como os campos, mas não...

Pegaste no homem português, e cantaste-o como se fosse um herói que sonhava, acreditava em si e construía o que sonhava... Partiste tão cedo...

A Corrida

Grândola recebeu-nos com 5º C às 9h, cercada por névoas que se recusavam a abandonar o ninho de sobreiros onde tinham recolhido durante a noite. Estacionámos, equipei-me e comecei a reparar que os outros corredores envergavam um físico de corredor de fundo profissionais, todos com equipamento de ponta. Vi a equipa feminina e masculina do Sporting, depois vi a equipa masculina e feminina do Benfica... olhei para o carro vassoura, pisquei-lhe o olho e pensei vamos ser companheiros hoje.

(nunca tive um dorsal com nº tão baixo)

Para desanuviar fui investigar um restaurante no centro da cidade e validar o respectivo menu. Sou um pseudo-atleta que dá muita importância ao que ingiro, e aqui para dentro não entra qualquer porcaria.
Esta era a minha primeira prova depois de um mês e meio de pausa por lesão, e sabia que não tinha grandes objectivos mas tinha que efectuar um bom aquecimento, de ligamentos, muscular e cardíaco. E é durante o aquecimento que reparo que até uma rapariga da Letónia veio cá correr... Medo!


Aquecimento feito, dirigi-me para a partida, aglomerei-me e de repente... um silencio... ouve-se o marchar firme, cadenciado como se fossem botas a esmagar gravilha... num ritmo pausado mas assertivo: um, dois, um, dois... a seguir foi como se toda a gente estivesse a cantar o hino, mas não era o nacional.

Partida, logo ali vejo toda a gente a ultrapassar-me, nem queria olhar para trás com receio de ver o carro vassoura, mas também não estava interessado em fazer uma corrida louca, e então mantive-me. Ainda assim tinha a sensação de que estava a correr mais rápido do que andava a treinar. 1º km 5:09 e 2ºkm a 4:59 e até ao 4ºkm a 5:09 (andava a correr a 5:30 nos treinos).


Até ao 5º Km foi um passeio no espaço urbano de Grândola, depois foi o sair da cidade e fazer 3 kms no montado de sobreiros... e esta é a minha casa... não tenho uma terra ou cultura de nascimento e não sou alentejano mas confesso que gostava de ser.

Do meio das arvores alguns avós seguravam bebés à espera de ver o pai ou a mãe a passar. Dois velhotes, de boina encostados ao tronco viam-nos passar, a cena de tão arquetipica que era, que os tive que cumprimentar: Bom dia... e eles responderam simpáticos "Bom dia". Para eles deve ser uma cena surrealista verem 500 maduros a correr desalmados para no final acabarem no mesmo sitio.

Bom, fiz praticamente a corrida toda com um rapaz de 57, e uma miúda de 25. No 8º km ele (Carlos Gonçalves) deixa-nos para trás numa subida que dava acesso à entrada da cidade. Mas não dá sequência ao andamento, e pouco depois de passarmos uma rampa, alargo a passada e deixo-o para trás.


No 9ºkm é a rapariga, Carla Pereira do Elvense, que alarga a passada, com os joelhos bem levantados, e vejo-me grego para acompanhá-la. Mas na recta final arranco em sprint, motivo-a a sprintar mas ela não reage. Último km em 4:27! Adoro estas provas onde chego ao final com fôlego para um sprint.

Mais uma pérola  local: "Onde é que vais com esse ar todo enxofrado? Já não és o primeiro!" Gritam umas velhotas alentejanas quando passam corredores a sprintar pela meta.

Depois um banho merecido nos balneários do excelente complexo desportivo, completamente apinhado, mas não deixei cair o sabonete!

Dedicado ao Rui

Depois meus caros, havia que repor os nutrientes perdidos durante a corrida. E como já disse, sou muito criterioso naquilo que ingiro. A minha médica sempre recomendou que evitasse os fritos e os assados, e privilegiasse os cozidos. E foi nesse sentido que escolhi esta saudável receita nativa...

 
(Cozido Alentejano)




9 comentários:

  1. Zémi, o poeta!
    Que bela prova, depois de um mês e meio de paragem forçada. E com aquelas meias de compressão, tenho a certeza de que te confundiste com os atletas profissionais (ou seria para seres melhor visto pelo carro vassoura?!)!
    A "maçã" para o almoço estava com bom aspecto (para quem aprecia, o que não é o meu caso)! Gosto mais de "maçãs" transmontanas...
    Muito bom!

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    1. Obrigado :)

      As meias evitaram que fosse atropelado pelo carro vassoura varias vezes.

      Também marchava uma feijoada transmontana... é tudo cozido :D

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  2. Ehehe, também já participei num GP e o ambiente é mesmo esse. Não ter ficado em último nessa prova é ainda hoje um dos meus maiores feitos. :)
    "Onde é que vais com esse ar todo enxofrado?" é lindo!! Acho que vou passar a usar... ;)
    Bela escolha de refeição, como diz o ditado, em Grandola sê Grando.. lense? lês? :)

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    1. Hahaha

      É uma experiencia diferente. Quase toda a gente faz abaixo dos 50.

      ...lense :)

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  3. Ainda bem que não deixaste cair o sabonete...

    Que inveja desse almoço!!!!

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    1. Temos que combinar umas corridas fora da zona urbana de Lisboa... Come-se muito bem e barato

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  4. Boa prova!!!
    Está esclarecido porque foste ao Alentejo correr! O último paragrafo e a última foto são ilucidativos!!! LOL

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  5. Ah ...os ares do Alentejo ..............renovam sempre o espirito!
    e a comida...............o corpo!

    Devias ter tirado uma foto com as "maganas"!

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