Eu, Triatleta

E pronto, está feito. Depois de muito pensar no assunto e de muito treinar, completei o meu primeiro triatlo, na primeira prova da época 2014, em Alpiarça. Foi um momento fantástico para mim, como aliás têm sido quase todos. Foi assim quando fiz, pela primeira vez, 5 kms a correr, depois passei para os 10 kms, enfim a meia-maratona e depois a maratona. Pelo meio completei também um Duatlo, sempre momentos de emoções fortes, tal como neste domingo

Correu bem, muito bem, a minha primeira experiência no Triatlo. Estava ansioso, confesso, por este dia. Tinha treinado para ele, sentia-me bem, mas havia muitas dúvidas, muitas perguntas às quais eu não tinha resposta. Tive muitos a meu lado para me darem conselhos, mas havia muitas respostas que precisava de descobrir por mim mesmo. 

Para começar o dia, achei por bem, fazer um treino pré-Triatlo de Alpiarça. Parte da equipa dos SSCGD saiu de Lisboa logo de bicicleta, mas eu optei por ir de carro até lá bem cedo, e fazer depois um treino de bicicleta já a partir de Alpiarça. O objectivo passaria até por encontrar-me com essa equipa que vinha de Lisboa algures no caminho, mas eles tiveram alguns problemas numa bicicleta e acabaram por se atrasar. Com tudo isto fiz 40 kms sozinho das estradas em redor de Alpiarça a um ritmo calmo, um treino que serviu para descomprimir as pernas, mas também a mente.

Com o aproximar da hora, começou a preparação logística. A entrada para o parque de transição foi feita já aos solavancos, fruto do nervosismo que se começava a apoderar de mim. Entre bicicleta, capacete, óculos e dois sacos com material, não tinha mãos a medir para tudo o que era preciso. Coloquei a bicicleta no local a que lhe era destinado e comecei a preparar o meu posto. Ténis aqui, sapatos ali, capacete pronto, etc. Besuntei-me e vesti o fato... Estava quase pronto.

Tudo pronto. Só faltava vestir o fato.

Com a equipa SSCGD já completa com os seus cinco elementos, fomos então para o ponto de partida. Estava então bastante nervoso na altura. Os meus colegas iam-me preparando para o que ia encontrar. Água fria, muito turva e a saber mal. Muita confusão, cuidado com os pontapés e cotoveladas... E o nervoso aumentava. Já no local de partida, mas ainda em terra, vejo mesmo ali ao meu lado o Márcio Neves, campeão mundial de IronMan em 2012, um herói nacional que já tive o prazer de entrevistar. Cumprimento-o e ele recebe-me como um anfitrião na sua própria casa. 

O campeão Márcio Neves a dar-me conselhos

Quem o vê, de sorriso na cara, não diria que não faz um triatlo desde Outubro de 2012, precisamente o mesmo em que conquistou o título mundial. Uma operação ao joelho não o deixou... E eis que dou por mim a receber conselhos deste homem. "Cuidado que o percurso é estreito e depois na viragem há muita confusão. Faz isto com calma que vai correr bem. No ciclismo atenção à última curva que é traiçoeira." Um campeão do Mundo de IronMan a dar-me conselhos... O que poderia correr mal?

Soa o tiro de partida

No momento da partida para o segmento de natação eu já estava entre os últimos classificados. Deixei-os ir à vontade e comecei a nadar ao meu ritmo.  

Olha para mim, no meio da molhada...

A água estava fria - a 14º - mas o fato absorvia boa parte desse frio e estava-se muito bem dentro de água. O fato, aliás, foi uma agradável surpresa. Tinha algum receio de como seria nadar com o fato, mas correu muito bem e até ajuda a flutuar, pelo que dispenso menos energia para isso. Braçada após braçada, lá ia encontrando alguns corpos pela frente. As mãos eram os meus olhos, pois debaixo de água só via escuro. Aos poucos comecei a perceber que teria de meter a cabeça de fora para ver em frente, não só para garantir que não chocava com alguém, mas também para me manter dentro da rota. Viro a 1ª bóia por dentro, qual campeão, assim como a 2ª. E eis que já estou de volta. Por esta altura o nervosismo já lá ia. Já estava tranquilo e já estava numa de apreciar o momento. 17 minutos depois do tiro de partida saio da água e o primeiro dever estava cumprido.

Transição #1

Despir o fato era o segundo momento stressante do dia. Ainda a correr, comecei a desapertar o fecho nas costas e tentei começar a tirar os braços. Primeiro um... depois o outro. Bolas... que complicado é. Mas o pior estava para vir. Fazer um fato molhado, já totalmente amaranhado, sair das pernas é que foi um caos. Já só queria arrancar aquilo. Enfim... Mais de 4 minutos depois de ter saído da água estava finalmente em cima da bicicleta.

Dar ao pedal

A passagem para a bicicleta foi muito boa. Arranquei forte e ganhei logo algumas posições. Passados 3 ou 4 kms passa por mim uma mota seguida de um pelotão de 10 triatletas. Era o grupo da frente das mulheres e vinham com um ritmo fantástico. Tentei apanhar-lhes a roda, mas aquilo é outro nível. Eu ia entusiasmado ali à volta dos 30 km/h, sempre no limite. Já no fim da primeira volta e lá vem nova mota com novo pelotão. Agora era o grupo da frente dos homens e só vejo camisolas encarnadas, depois verdes e depois pretas... Era o pessoal do Benfica, do Sporting e dos Águias de Alpiarça. 

Passa também por mim o José Estrangeiro e mais uns quantos nomes fortes do Triatlo, todos já acabar o segmento do ciclismo, enquanto eu me preparava para acabar apenas a primeira volta. Chego à tal curva traiçoeira e arranco para a segunda volta. Por esta altura ultrapasso o homem que fez a primeira volta à minha frente. E ele apanha-me a roda e vai à boleia. E depois outro e mais outro. Quando dou por mim era já o líder de um pequeno pelotão de 5 ou 6 ciclistas. E eu sempre a dar, sempre no limite. E ali fui até ao final dos 20 kms.

Transição #2

Bem mais fácil e tranquila. Larguei a bicicleta, troquei os ténis e lá vai disto que já só faltam 5 kms.

Sofrer a bom ritmo

Começar a correr não foi fácil. As pernas estavam pesadas e já acusavam o esforço dos dois segmentos anteriores, assim como do treino pré-triatlo. Mas estavam com um ritmo bom, ainda da alta rotação da bicicleta. Olhava para o relógio e corria abaixo dos 5 min/km. Confesso que na altura não me parecia, julgava estar a correr bem devagar. Nada disso. Mas sofri e sofri mesmo. Custou bastante, os pés pareciam ser de chumbo e não querer sair do chão. O 1º e o 2º km foram os piores, mas depois a coisa melhorou. E às tantas já só faltavam 500 metros quando me fui cruzando com o resto da equipa. Enchi o peito de alma e fiz-me à meta, que cruzei com 1h28m. Fantástico.

Estava feito o meu primeiro triatlo. E sabem o que foi melhor? É que no final voltei a cruzar-me com o campeão do mundo e ele deu-me os parabéns. Ele... o campeão do mundo, a dar-me os parabéns a mim! Isso foi melhor que qualquer medalha. E vocês sabem o quando eu gosto de medalhas...


PS: Quem quiser conhecer melhor o Márcio Neves, pode ler a entrevista que lhe fiz para a revista J, do jornal O jogo, em Outubro de 2012, no rescaldo do título de Campeão do Mundo de IronMan, no Havai.
É só seguir o LINK.