(texto escrito por
Pedro T. e Zémi M.)
Arrábida, de Al-Ribat:
local de oração
Correr na nesta serra era um sonho, uma vez que as Matas desta são
únicas, e “constituem um dos últimos vestígios de uma floresta pré-glaciária do
sul da Europa”, combinando elementos atlânticos num ambiente mediterrânico. Nesta
serra sagrada o Carrasco (Quercus Coccifera) é Rei.
A luz e a cores deste espaço entre o céu, o mar, praia e a terra fazem
deste realmente um sítio mágico, polvilhado de vestígios humanos, desde o
paleolítico, passando por vários povoados da idade do bronze e do ferro, até à
presença romana de Cetóbriga (Setubal).
Foi uma das grandes questões (de caracter geográfico) que
sempre se pôs em Setúbal e arredores: Onde começa a Serra da Arrábida? E onde
acaba? Quem a detêm? E quem a contêm?
Assumimos o desafio. Encarámos o início da manhã como sempre
a encaramos num dia de corrida: “Fosga-se” que sono!
Por volta das 8.45 estávamos a circundar Palmela pela A2. O Castelo
de Palmela olhava de soslaio, como que a perguntar que trio era aquele que
tiritava de frio dentro de um carro ensonado.
Pedro T, Zémi e Eduardo, procuravam perceber que espécie de “caminho
mítico” era aquele que ligava Setúbal à rotunda de Palmela através caminhos e
subidas lentas.
A chegada ao Parque de Vanicelos, numa das extremidades da
cidade, indicou que seria uma corrida bem composta. A ausência de lugares de
estacionamento obrigou a um estacionamento menos tradicional. Uma lebre de
cueca preta exercitava os membros traseiros, no ar um cheiro a pão acabado de
cozer, na pele um arrepio devido ao frio seco vindo da serra. Bem-vindos ao
VIII GRANDE PREMIO NA ARRABIDA 2013.
Com o dorsal já posto, um xixi feito e um aquecimento q.b.,
deu-se o tiro de partida. Para quem não sabe esta corrida tem algumas
particularidades. Ao longo deste texto serão indicadas. Para já os primeiros
quilómetros “politicamente correctos”. A cabeça do pelotão é guiada por uma ou
mais lebres (este ano, quiçá pelo frio, vestida a rigor!) e apenas ela(s)
poderá(o) fazer a dianteira do referido pelotão. Nada de correrias loucas logo
de início. É, portanto, um começo de corrida para a foto!
O asfalto acabou, e a pobre lebre foi literalmente
“esmifrada” logo que o quilometro “ Kodak” findou. Iniciámos o “caminho
mítico”. A passagem pela terra batida foi salpicada pelo tilintar de chocalhos
de ovelhas e de desabafos galináceos. Respirava-se um verde ar campestre. O sol
banhava-nos o torso traseiro. Rabos aquecidos eram levados por pernas
agradecidas pelo calor do sol. O Eduardo acha que é uma altura para tirar a
roupa interior. As ovelhas juntam-se para o Strip em andamento. Pedro T e Zémi
aumentam a velocidade perante a possibilidade de uma situação hollywoodesca. A
proteção civil é chamada. No futuro o Eduardo será conhecido, nestas bandas, pelo
“Bieber da Fonte da Telha”!
No entanto, nos metros seguintes em vez de aplausos, fomos
bombardeados por bolotas. Portanto optámos por uma corrida versão “Matrix” só para não levarmos com as
benditas na tola!
Chegámos á base do inferno. A última casa caiada de branco
ficou entretanto para trás. Inicia-se o “caminho mítico”. O arfar é em conjunto
e a várias (muitas) bocas. Dir-se-ia um esforço de prazer com climax lá no
topo, onde os reis moravam e luxuriavam e a plebe servia e sobrevivia.
O princípio do caminho parecia acessível. Mas os mais
incautos seriam deixados para trás se não houvesse cuidado no assumir da
tarefa. Curvas sem fim e um cansaço desanimador convidavam à paragem para
descanso. Se a estrada é “dura de mastigar”, não tragas “ténis de passeio”. A
melhor estratégia era mesmo olhar para o lado e apreciar a maravilhosa vista.
Ufff de tirar o folego. E assim com esta propósito dêmos melhor uso ao folego
perdido e subimos rumo ao princípio da descida!
À medida que a subida se entranha serpenteando no casario, o
medo de ter de parar de correr metamorfoseia-se numa crescente autoconfiança.
No pequeno asfaltado planalto, alarga-se a passada e junto-me aos meus
companheiros. Em segredo sentimos que vamos ter saudades da terra batida.
Mas a estrada não dura muito, e logo que viramos à esquerda
para descer, a terra batida amortece-nos as passadas e embrenhamo-nos novamente
da floresta mediterrânica. Descer em terra batida não é a mesma coisa do que no
asfalto. Há que ter muito cuidado onde se põe os pés. Grita-se para o Eduardo
que entretanto se pirou, para travar senão cai. Ainda assim, sem querer
ultrapassa-o, com dificuldade em me manter em pé e o Zé o primeiro a chegar ao
fim daquela descida ingreme… Provavelmente por ser o mais pesado dos 3…
Se um de nós passou a subida toda a pensar no brinde em
forma de poema, a efectuar ao quilometro 8,6, lá chegados o Eduardo em vez de
parar e brindar vai-se embora. Enfim, brindamos rapidamente, e encetamos uma
perseguição mortífera ao Edu.
No inicio o Moscatel, sabe bem e dá força para correr,
passado esse fluxo energético, experiencia-se cansaço, azia e/ou dor de burro.
Ainda assim conseguimos apanhar o nosso fugitivo, ele próprio no encalce de uma
“gazela” em calças de licra.
(a ser ultrapassados
por uma gazela)
No final, depois de violentamente ultrapassados pela gazela
que o Eduardo perseguia, lá acabamos todos juntos, alinhados na meta, numa
atitude claramente anti concorrencial, quais irmãozinhos, para que a
organização fizesse o pedido mais difícil – “Mantenham as vossas posições!”,
mantenham as posições? Mas quais posições?
Alongamentos e comentários à prova feitos, e rumámos a um
merecido duche reconfortante… reconfortante não, Duche frio!Aguenta firme e
hirto. Sim, porque a corrida foi só a desculpa para o que se viria a passar
depois…
A fazer tempo para o almoço, fizemos uma pequena visita ao forte de São Filipe
Seguido de um almoço Choco Fgrito (obrigado pelo conselho Pacheco).
A finalizar com um brinde com moscatel, regado em bom
ambiente de grupo, num final de tarde com imagens lindíssimas na Figueirinha.
… Uns dias depois ficámos a saber que alguém com quem
corremos se tinha esquecido de algo em Setúbal. Foi só o prémio do 3º lugar
sénior feminino.
Para o ano há mais…
(texto escrito por
Pedro T. e Zémi M.)
A pergunta que se impõe é... que meias são essas Zé?!?!?
ResponderEliminarE tudo começa com "Momentos Canal História"!!!
ResponderEliminarVerificamos que para além do frio o Zé ia preparado para... o nevoeiro!!! Zé, isso são meias refletoras??? LOL
Parece-me que ficou muito por contar da parte do "comes e bebes". LOL
Belas fotos! Tou a ver que foi um belo passeio :)
Abraço
"Chegámos á base do inferno. A última casa caiada de branco ficou entretanto para trás. Inicia-se o “caminho mítico”. O arfar é em conjunto e a várias (muitas) bocas. Dir-se-ia um esforço de prazer com climax lá no topo, onde os reis moravam e luxuriavam e a plebe servia e sobrevivia."
ResponderEliminarGanharam o prémio do Post Mais Lírico do Século!
Deve ser ainda do "espírito" do moscatel...
EliminarA garrafa ainda não acabou ;)
EliminarTexto muito rico, cheio de metáforas e bem disposto! :)
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