Páginas

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Corrida do Benfica 2013, by José M.



Antes de correr a minimaratona da ponte em finais de Março, tinha que decidir a minha prova para o mês de Abril e não podia haver grande espaço para dúvidas, tinha a corrida do BES, tinha uns trailzitos por escolher, mas, por fundamentalismo religioso, e longe de mim estar a julgar a falta de princípios de alguém, tinha que ser a Grande corrida do glorioso Benfica.

Todavia, assaltava-me uma dúvida, seria eu já capaz de ir aos 10km? ou o melhor era ficar pelos 5km e ganhar mais alguma experiência de estrada? Afinal estamos a falar de um tipo que, até há uns 11 meses, não corria mais do que 10 minutos numa passadeira e na altura da decisão ainda não tinha feito a prova da ponte.

Falei com amigos e todos me aconselharam os 10km porque seria uma evolução natural, por outro lado, consultei o percurso e nos 3km iniciais, vi que na avenida Lusíada ia apanhar duas rampas bem inclinadas, e uma delas quase com um km. Estou habituado a correr em terreno plano e não a fazer rampas, torci o nariz e decidi ponderadamente, contra tudo e contra todos: Vou aos 5 kms!

Quando anunciei a decisão as reacções não se fizeram esperar, quais sábios de um conselho de mestres de Jedi, variaram desde o brando “Zé, no final com a sensação de que conseguias fazer mais uns quilómetros vais ficar”, passando pelo “Bom, por este andar para o ano vais fazer o passeio avós e netos.” Até ao extremo de me chamarem de “meia légua”. Assim após um mês inteiro de tiradas jocosas e adjectivações só enunciáveis em balneários masculinos, tinha o ego foi tão esmifrado, como um dente de alho prestes a entrar na frigideira.

Dois dias antes da prova recebo o dorsal, o chip e, principalmente a camisa preta com o símbolo do glorioso ao peito, linda. Espera, isto é uma tshirt técnica dos 10km, certamente que se enganaram, pensei. Dirigi-me à secção de atletismo para devolver a dita e receber uma de algodão, tendo ficado a saber que lá em cima no Olimpo os Deuses se moveram, e reteceram o meu destino. A secção “enganou-se” na inscrição e pôs-me na prova mais longa. Aceitei a decisão Deles, o meu orgulho já não me deixava voltar atrás, vou fazer os 10 custasse o que custasse.

E custou! Custou-me logo duas noites mal dormidas a anteceder o dia da prova. Na manhã da prova poupei-me ao sol que finalmente emergiu victorioso, rasgando as trevas do Inverno, e só à última da hora me juntei aos restantes corredores. Não havia ninguém da organização a fazer a filtragem e dado que me quedei um pouco atrás, misturado entre convivas das provas dos 5 e dos 10km, parti na prova dos 5km, largos minutos depois da prova para que fui inscrito.

Mas enfim, o meu objectivo era fazer os 10km nas calmas, independentemente do tempo que levasse e portanto pensei que seria indiferente. Afinal não foi! Foi um erro crasso de iniciante de que me haveria de arrepender mais tarde.

Enfim, com uns 20 minutos de atraso na estorrica do Sol, lá se iniciou a prova com uma distinção rápida entre os que iam para a marcha e os da corrida. Como tática, decidi poupar-me no início, até à subida da Av. Lusíada, recuperar a respiração e depois lá veríamos o que o corpo dava.

Assim, o 1 Km a descer foi feito em 6 min e meio (ritmo da participação na mini da ponte), o segundo km já a subir em 6 min, o 3km incluiu o pico da subida da rampa e a recuperação.

Ao 4º Km, já mais à vontade, decido correr ao ritmo que um mestre me ensinou, e entro no parque de estacionamento do estádio, deixei de olhar para o relógio, ao longe ouve-se um clamor que vem das entranhas do estádio e que nos agita o peito como um chamamento.

A entrada no relvado do estádio da Luz é uma sensação difícil de passar para quem não teve a mesma experiencia; saindo do cimento cinzento do parque de repente, a luz cega-nos os olhos, e os gritos dos familiares dos outros corredores enchem-nos os ouvidos. Uns poucos de passos no relvado, os olhos habituam-se, e o verde e vermelho da relva e das bancadas revelam-se num anfiteatro monumental que nos envolve. Imediatamente um sorriso toma conta do meu rosto. Resolvi alargar a passada para fazer boa figura no estádio. Confesso que senti inveja dos outros concorrentes por não ter lá ninguém especial para me tirar uma foto a correr.

Saído do estádio, insuflado com uma dose de motivação extra, passo pelos tuneis do Colombo e chego ao 5ºkm, olho para o relógio e vejo 30 minutos de corrida. Ainda não parei e começa a germinar o pensamento de que a este ritmo posso ficar abaixo da hora.

Em sentido contrário, vejo o pessoal que apanhou a partida dos 10km e regressa ao estádio, e entre eles o Zé, facilmente identificável pelo lenço fantasia atado à volta da cabeça à karaté kid, um colega do secundário, que saúdo.

A rampa de Carnide é um obstáculo difícil, são praticamente dois km em ligeira subida. De início custou um pouco, depois fui-me habituando, mas árvore após árvore ia ficando com a sensação de que a rampa nunca mais acabava, na ponta final já tinha muita dificuldade mas fiz sem parar. No início da descida, largo os meus braços por forma a relaxar os ombros, respiro fundo e recupero a respiração.

7kms e 42 minutos depois da partida, cresce a sensação de que conseguirei fazer a corrida abaixo da hora. Acelero na 2ª metade descendente da rampa, entro nos tuneis paralelos ao Colombo, recebo a 3ª garrafa de água mas descubro que continuo sem saber beber e manter o controlo da respiração. Sobe-me a motivação, desde a rampa de Carnide que estou sempre a ultrapassar outros corredores.

Perco a indicação do 8º km mas ao 9º ia com 54m 12s, uma média de 6min/km, sei agora que com um esforço suplementar conseguirei ficar abaixo da hora, e atirar à cara dos mestres. O início do 9ºkm é a descer e acelero, até uma curva à esquerda. Coberta por uma esquina de um prédio, esconde-se uma subida em ziguezague que me quebra o ritmo mas não a vontade.

Finalmente chegado à reta final, acelero novamente mas o portal da meta recebe-me com três desilusões:

·         1h16m tempo oficial;
·         1h00m14s tempo no relógio, a 15seg da hora, lembram-se que parti tarde com o pessoal dos 5km;
·         e por fim não havia banana no final.

Balanço:

Grande festa, fiz os 10 kms sem parar e consegui ir trabalhar no dia seguinte, pelo que os objectivos iniciais foram atingidos na totalidade.

Porém, um amargo de boca pela má organização no inicio e fiquei com a sensação que conseguiria um resultado melhor.

Texto escrito por José M., um amigo do Team JRR e uma promessa das corridas.
 
 

1 comentário:

  1. Esta prova está arrumada! agora é olhar para o que vem a seguir e cumprir os teus planos de treino....may the force be with you, young skywalker!

    Mais treinos e menos almoços avantajados!

    ResponderEliminar