Antes de correr a minimaratona da ponte em finais de Março,
tinha que decidir a minha prova para o mês de Abril e não podia haver grande
espaço para dúvidas, tinha a corrida do BES, tinha uns trailzitos por escolher,
mas, por fundamentalismo religioso, e longe de mim estar a julgar a falta de
princípios de alguém, tinha que ser a Grande corrida do glorioso Benfica.
Todavia, assaltava-me uma dúvida, seria eu já capaz de ir
aos 10km? ou o melhor era ficar pelos 5km e ganhar mais alguma experiência de
estrada? Afinal estamos a falar de um tipo que, até há uns 11 meses, não corria
mais do que 10 minutos numa passadeira e na altura da decisão ainda não tinha
feito a prova da ponte.
Falei com amigos e todos me aconselharam os 10km porque
seria uma evolução natural, por outro lado, consultei o percurso e nos 3km
iniciais, vi que na avenida Lusíada ia apanhar duas rampas bem inclinadas, e
uma delas quase com um km. Estou habituado a correr em terreno plano e não a
fazer rampas, torci o nariz e decidi ponderadamente, contra tudo e contra
todos: Vou aos 5 kms!
Quando anunciei a decisão as reacções não se fizeram
esperar, quais sábios de um conselho de mestres de Jedi, variaram desde o
brando “Zé, no final com a sensação de que conseguias fazer mais uns
quilómetros vais ficar”, passando pelo “Bom, por este andar para o ano vais
fazer o passeio avós e netos.” Até ao extremo de me chamarem de “meia légua”.
Assim após um mês inteiro de tiradas jocosas e adjectivações só enunciáveis em
balneários masculinos, tinha o ego foi tão esmifrado, como um dente de alho
prestes a entrar na frigideira.
Dois dias antes da prova recebo o dorsal, o chip e,
principalmente a camisa preta com o símbolo do glorioso ao peito, linda.
Espera, isto é uma tshirt técnica dos 10km, certamente que se enganaram,
pensei. Dirigi-me à secção de atletismo para devolver a dita e receber uma de
algodão, tendo ficado a saber que lá em cima no Olimpo os Deuses se moveram, e
reteceram o meu destino. A secção “enganou-se” na inscrição e pôs-me na prova
mais longa. Aceitei a decisão Deles, o meu orgulho já não me deixava voltar
atrás, vou fazer os 10 custasse o que custasse.
E custou! Custou-me logo duas noites mal dormidas a
anteceder o dia da prova. Na manhã da prova poupei-me ao sol que finalmente emergiu
victorioso, rasgando as trevas do Inverno, e só à última da hora me juntei aos
restantes corredores. Não havia ninguém da organização a fazer a filtragem e
dado que me quedei um pouco atrás, misturado entre convivas das provas dos 5 e
dos 10km, parti na prova dos 5km, largos minutos depois da prova para que fui
inscrito.
Mas enfim, o meu objectivo era fazer os 10km nas calmas,
independentemente do tempo que levasse e portanto pensei que seria indiferente.
Afinal não foi! Foi um erro crasso de iniciante de que me haveria de arrepender
mais tarde.
Enfim, com uns 20 minutos de atraso na estorrica do Sol, lá
se iniciou a prova com uma distinção rápida entre os que iam para a marcha e os
da corrida. Como tática, decidi poupar-me no início, até à subida da Av.
Lusíada, recuperar a respiração e depois lá veríamos o que o corpo dava.
Assim, o 1 Km a descer foi feito em 6 min e meio (ritmo da
participação na mini da ponte), o segundo km já a subir em 6 min, o 3km incluiu
o pico da subida da rampa e a recuperação.
Ao 4º Km, já mais à vontade, decido correr ao ritmo que um
mestre me ensinou, e entro no parque de estacionamento do estádio, deixei de
olhar para o relógio, ao longe ouve-se um clamor que vem das entranhas do
estádio e que nos agita o peito como um chamamento.
A entrada no relvado do estádio da Luz é uma sensação
difícil de passar para quem não teve a mesma experiencia; saindo do cimento
cinzento do parque de repente, a luz cega-nos os olhos, e os gritos dos
familiares dos outros corredores enchem-nos os ouvidos. Uns poucos de passos no
relvado, os olhos habituam-se, e o verde e vermelho da relva e das bancadas
revelam-se num anfiteatro monumental que nos envolve. Imediatamente um sorriso
toma conta do meu rosto. Resolvi alargar a passada para fazer boa figura no
estádio. Confesso que senti inveja dos outros concorrentes por não ter lá
ninguém especial para me tirar uma foto a correr.
Saído do estádio, insuflado com uma dose de motivação extra,
passo pelos tuneis do Colombo e chego ao 5ºkm, olho para o relógio e vejo 30
minutos de corrida. Ainda não parei e começa a germinar o pensamento de que a
este ritmo posso ficar abaixo da hora.
Em sentido contrário, vejo o pessoal que apanhou a partida
dos 10km e regressa ao estádio, e entre eles o Zé, facilmente identificável
pelo lenço fantasia atado à volta da cabeça à karaté kid, um colega do
secundário, que saúdo.
A rampa de Carnide é um obstáculo difícil, são praticamente
dois km em ligeira subida. De início custou um pouco, depois fui-me habituando,
mas árvore após árvore ia ficando com a sensação de que a rampa nunca mais
acabava, na ponta final já tinha muita dificuldade mas fiz sem parar. No início
da descida, largo os meus braços por forma a relaxar os ombros, respiro fundo e
recupero a respiração.
7kms e 42 minutos depois da partida, cresce a sensação de
que conseguirei fazer a corrida abaixo da hora. Acelero na 2ª metade
descendente da rampa, entro nos tuneis paralelos ao Colombo, recebo a 3ª
garrafa de água mas descubro que continuo sem saber beber e manter o controlo
da respiração. Sobe-me a motivação, desde a rampa de Carnide que estou sempre a
ultrapassar outros corredores.
Perco a indicação do 8º km mas ao 9º ia com 54m 12s, uma
média de 6min/km, sei agora que com um esforço suplementar conseguirei ficar
abaixo da hora, e atirar à cara dos mestres. O início do 9ºkm é a descer e
acelero, até uma curva à esquerda. Coberta por uma esquina de um prédio,
esconde-se uma subida em ziguezague que me quebra o ritmo mas não a vontade.
Finalmente chegado à reta final, acelero novamente mas o
portal da meta recebe-me com três desilusões:
·
1h16m
tempo oficial;
·
1h00m14s
tempo no relógio, a 15seg da hora, lembram-se que parti tarde com o pessoal dos
5km;
·
e
por fim não havia banana no final.
Balanço:
Grande festa, fiz os 10 kms sem parar e consegui ir
trabalhar no dia seguinte, pelo que os objectivos iniciais foram atingidos na
totalidade.
Porém, um amargo de boca pela má organização no inicio e
fiquei com a sensação que conseguiria um resultado melhor.
Texto escrito por José M., um amigo do Team JRR e uma promessa das corridas.
Esta prova está arrumada! agora é olhar para o que vem a seguir e cumprir os teus planos de treino....may the force be with you, young skywalker!
ResponderEliminarMais treinos e menos almoços avantajados!