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segunda-feira, 25 de março de 2013

The rookie experience - De um tipo que não conseguia correr 10 minutos quando estava na escola




"Era o grande dia, para o qual me tinha preparado nos últimos meses. Com a ansiedade dormi mal, acordei às 5:20 e já não consegui adormecer. Às 7:45 cheguei ao ponto de encontro. Como estava calor deixei o corta-vento no carro decisão que me viria a arrepender mais tarde, com algumas peripécias apanhamos o autocarro, depois o comboio e chegámos ao tabuleiro da ponte.

Como era o único que ia para a minimaratona, fui sozinho, submergi numa multidão de 35.000 pessoas em ambiente de festa, quase tão apertado como as festas afro-latinas no espaço 20 (ninguém vai perceber a piada). Uma vez que faltava uma hora em meia para o início tentei encontrar uns colegas do trabalho para ajudar a passar o tempo. Furei, furei mas não os encontrei.

Quando dei por mim estava em frente a um palco com monitores da Holmes Place a tentarem que o pessoal todo empacotado fizesse o Harlem Shake e uma aula de aquecimento, aos saltos e aos pontapés, e com uma energia e alegria na voz que não é natural. Ninguém na vida consegue ser assim tão feliz.

Olhei para baixo e só vi sapatos de corrida à volta dos meus pés, olhei para a frente, vi a ponte e reparei que 5 metros à frente estava uma linha de seguranças da Prosegur. Estava no sítio certo, ao pé da linha de partida e rodeado de gente que ia correr, sem o pessoal que vem passear para me bloquear o caminho.

10:30 em ponto, o pessoal da meia maratona começa a correr, dois minutos depois as pessoas à minha frente também. Falsa partida, depois de tropeçar em corta ventos e camisolas e lixo que os porcos dos meio maratonistas deixaram para trás pararam-nos na linha de partida. 3 minutos depois finalmente a partida.

Ao início, no tabuleiro da ponte, foi uma prova de slalom entre as pessoas que vieram passear, só se conseguia correr na faixa da esquerda com gradeamento, a lutar contra o vento intenso que vinha de baixo e com a falta de aderência dos ténis naquele piso foi uma experiencia desagradável. A meio da ponte passei para o conforto da faixa do meio, sem vento e com pessoas a correr à minha velocidade. Comecei a controlar a respiração e resolvi meter os fones para me motivar.

Decidi correr atrás de umas raparigas italianas (de uma equipa de Ostia) que iam à minha velocidade, descobri que correr atrás de raparigas tem as suas vantagens. A saída da ponte num ramal que sobe por cima da estrada antes da descida para o Calvário acabou por ser um obstáculo menor, a descida foi um alívio. As italianas tinham ficado para trás.

Em Alcântara resolvi aceitar a garrafinha de água, mas descobri que tenho que tirar um curso para aprender a beber água enquanto corro, parecia um tótó ia perdendo o controlo da respiração.

Ao longo da antiga FIL, a respiração estava controlada, sentia-me bem, mas comecei a achar estranho continuar a ultrapassar uma série de pessoas que marchavam. Já tão perto da meta e desistiram de correr? Ou teriam partido antes de nós? À minha esquerda reparei pela primeira vez nos profissionais das meias maratonas a passarem por nós como se fossem setas.

Enquanto passava pelo edifício da cordoaria, comecei a ter a certeza de que conseguiria fazer a corrida toda sem parar, devem ter começado a bater as endorfinas, sentia-me claustrofóbico por ter aquela gente toda à minha frente e ao meu lado. Apetecia-me alargar a passada mas não conseguia.

No jardim do império a situação era pior, mais gente, um segurança passou à minha frente a placar um corredor que não tinha dorsal, não conseguia passar ninguém, até que no final a pista abre e via a meta pela primeira vez. Não sei o que me deu, talvez quem ler isto me possa dar uma explicação, sei que explodi por dentro e desatei a sprintar durante duzentos metros em aceleração completa até cortar a meta. Chamem-me de drogado.

A banana e a água no final souberam-me muito bem. O gelado e o leitinho ofereci a “uma rapariga muito simpática” que me estava a tirar fotografias no alongamento. No fim, fiquei com a sensação de que me apetecia e conseguia correr mais uns kilometros… Talvez uma prova de 10 km."


Texto escrito por José M., um amigo do Team JRR e uma promessa das corridas.
 

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