"Era o grande dia, para o qual me tinha preparado nos últimos
meses. Com a ansiedade dormi mal, acordei às 5:20 e já não consegui adormecer.
Às 7:45 cheguei ao ponto de encontro. Como estava calor deixei o corta-vento no
carro decisão que me viria a arrepender mais tarde, com algumas peripécias
apanhamos o autocarro, depois o comboio e chegámos ao tabuleiro da ponte.
Como era o único que ia para a minimaratona, fui sozinho,
submergi numa multidão de 35.000 pessoas em ambiente de festa, quase tão
apertado como as festas afro-latinas no espaço 20 (ninguém vai perceber a
piada). Uma vez que faltava uma hora em meia para o início tentei encontrar uns
colegas do trabalho para ajudar a passar o tempo. Furei, furei mas não os
encontrei.
Quando dei por mim estava em frente a um palco com monitores
da Holmes Place a tentarem que o pessoal todo empacotado fizesse o
Harlem Shake e uma aula de aquecimento, aos saltos e aos pontapés, e com uma
energia e alegria na voz que não é natural. Ninguém na vida consegue ser assim
tão feliz.
Olhei para baixo e só vi sapatos de corrida à volta dos meus
pés, olhei para a frente, vi a ponte e reparei que 5 metros à frente estava uma
linha de seguranças da Prosegur. Estava no sítio certo, ao pé da linha de
partida e rodeado de gente que ia correr, sem o pessoal que vem passear para me
bloquear o caminho.
10:30 em ponto, o pessoal da meia maratona começa a correr,
dois minutos depois as pessoas à minha frente também. Falsa partida, depois de
tropeçar em corta ventos e camisolas e lixo que os porcos dos meio maratonistas
deixaram para trás pararam-nos na linha de partida. 3 minutos depois finalmente
a partida.
Ao início, no tabuleiro da ponte, foi uma prova de slalom
entre as pessoas que vieram passear, só se conseguia correr na faixa da
esquerda com gradeamento, a lutar contra o vento intenso que vinha de baixo e
com a falta de aderência dos ténis naquele piso foi uma experiencia
desagradável. A meio da ponte passei para o conforto da faixa do meio, sem
vento e com pessoas a correr à minha velocidade. Comecei a controlar a
respiração e resolvi meter os fones para me motivar.
Decidi correr atrás de umas raparigas italianas (de uma
equipa de Ostia) que iam à minha velocidade, descobri que correr atrás de
raparigas tem as suas vantagens. A saída da ponte num ramal que sobe por cima
da estrada antes da descida para o Calvário acabou por ser um obstáculo menor,
a descida foi um alívio. As italianas tinham ficado para trás.
Em Alcântara resolvi aceitar a garrafinha de água, mas
descobri que tenho que tirar um curso para aprender a beber água enquanto
corro, parecia um tótó ia perdendo o controlo da respiração.
Ao longo da antiga FIL, a respiração estava controlada,
sentia-me bem, mas comecei a achar estranho continuar a ultrapassar uma série
de pessoas que marchavam. Já tão perto da meta e desistiram de correr? Ou
teriam partido antes de nós? À minha esquerda reparei pela primeira vez nos
profissionais das meias maratonas a passarem por nós como se fossem setas.
Enquanto passava pelo edifício da cordoaria, comecei a ter a
certeza de que conseguiria fazer a corrida toda sem parar, devem ter começado a
bater as endorfinas, sentia-me claustrofóbico por ter aquela gente toda à minha
frente e ao meu lado. Apetecia-me alargar a passada mas não conseguia.
No jardim do império a situação era pior, mais gente, um
segurança passou à minha frente a placar um corredor que não tinha dorsal, não
conseguia passar ninguém, até que no final a pista abre e via a meta pela
primeira vez. Não sei o que me deu, talvez quem ler isto me possa dar uma
explicação, sei que explodi por dentro e desatei a sprintar durante duzentos
metros em aceleração completa até cortar a meta. Chamem-me de drogado.
A banana e a água no final souberam-me muito bem. O gelado e
o leitinho ofereci a “uma rapariga muito simpática” que me estava a tirar
fotografias no alongamento. No fim, fiquei com a sensação de que me apetecia e
conseguia correr mais uns kilometros… Talvez uma prova de 10 km."
Texto escrito por José M., um amigo do Team JRR e uma promessa das corridas.
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