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terça-feira, 11 de junho de 2013

BES RUN Lisboa – Dois manjericos à procura de Sofia

(Foto: André Noronha )
Para este mês de Junho tinha como grande objectivo bater o meu recorde dos 10kms (55 minutos e 14 segundos oficiosos). Inscrevi-me Na Corrida do Oriente e na do BES Run Lisboa, ambas com traçado rápido, mas como já referi  na crónica passada, basta uma gastroenterite para nos mandar abaixo durante e depois da doença.

Enfim, a corrida do Oriente tinha corrido mal, era altura de erguer a cabeça, levantar-me do chão e tentar o tudo por tudo nesta prova. Só a meio da semana que antecedeu a prova, nos treinos, é que já sentia o corpo a reagir normalmente, sem cansaços estranhos nem dores musculares.

A partida e chegada era no Rossio, uma área muito movimentada de transito que ainda por cima estaria proibido, levantando problemas de acesso à zona. Felizmente e como qualquer grande atleta tenho uma equipa fabulosa que trata da parte logística, neste caso de me ir levar ao Rossio, sem ter de pensar onde arrumar o carro nem pagar estacionamento, que é a minha mulher.

Assim cheguei à corrida da Concorrência, e há que dizer que uma pessoa sente-se desconfortável rodeada de milhares de homens e mulheres pululando pelo Rossio fora com camisas de uma cor esverdeado-fluorescente a fazer publicidade ao BES. Sentia-me tão em casa como uma fatia de rosbife no meio de uma sopa de alface.

Aqui tenho que fazer um interregno à crónica da corrida e fazer uma referência ao que se passa à volta das provas propriamente ditas, é que para além dos quilómetros, do traçado da pista, dos recordes que se pretendem bater ou não, para além do exercício que se faz e das calorias que se gastam, cada prova é sempre uma festa! É uma festa antes da partida, quando tudo fervilha de ansiedade, é uma festa durante a corrida, quer para quem vai com espírito de competição, quer quem vai para apreciar o passeio, e por fim, é uma festa depois de passar a meta quando os participantes se encontram submergidos em endorfinas a trocar impressões sobre a corrida. É esse espírito que se vive e é por isso que se corre também.

Bom, voltando à corrida depois de encontrar o Pedro T., fizemos um aquecimento como deve ser e dirigimo-nos a um nicho de pessoas orgulhosos numa conhecida camisa azul, sempre bem-dispostos, liderados pelo André N. e ficamos mais à vontade. Era altura de explanarmos o plano para a corrida:

Pedro: Então qual é o objectivo para hoje? É que meteste umas coisas no FB que metem medo.

Zémi: É fazer algo abaixo dos 55 minutos, bater o meu record, sentir-me a evoluir,e tu?

Pedro: Eu vou contigo!

Zémi: Ah muito bem, então vieste passear? (ele faz os 10km em 45min)

Pese embora tenhamos ficado inscritos no Grupo dos Mais60’ (um pouco insultuoso pensei, mas depois auto repreendi-me por tal petulância), durante a entrada para a área de partida eu e Pedro tentámos fluir na corrente, como quem não quer a coisa,assim sem querer, para a box dos abaixo de 60’ para ganharmos alguns segundos, mas uma sargentona da empresa de Segurança do Grupo BES, repreendeu-me por diversas vezes, pelo que anuí e fiquei na cerca dos mais lentos.

Não encontrámos a Sofia, uma jovem simpática e muito promissora com quem treinamos com alguma regularidade. Era a primeira vez que iria correr com ela e seria engraçado partirmos todos juntos. Ainda pensei em tentar apanha-la durante a corrida, mas depois lembrei-me, em primeiro lugar, que ela partia do grupo dos sub50’ - a primeira box - e depois dos tempos que ela anda a fazer aos 10km (48’), pelo que depreendi que estava a perseguir uma ilusão e abandonei a ideia.

O coração foi acelerando pouco a pouco e... PARTIDA! Saltei para a frente, tentei ultrapassar o máximo de pessoas  possível em slalom, para sair da caixa humana em que me encontrava e que se arrastava ao longo da Rua do Ouro. Não conseguia sair, estava preso até que tive a ideia de de começar a correr pelas laterais do passeio.

Fui eu a pensar assim... e mais uma série de gente. De repente os turistas estrangeiros que se encontravam no passeio, que se pensavam em segurança, todos contentes a tirar fotos à corrida, escondiam-se agora nos beirais, atrás dos semáforos, de uma horda de corredores em fúria que faziam tangentes aos bifes e às bifanas. Era o caos pela rua do Ouro abaixo. Viram-se cenas muito divertidas, quer para para os corredores quer para os turistas, deve ter sido algo de surreal.

O Pedro ia-me acompanhando, mas nunca comentámos entre nós este inicio infernal, isto decorreu pela Rua do Ouro, rua do Arsenal até chegarmos ao Cais do Sodré.  Quando passei pela praça da Ribeira ultrapassei a “lebre” dos que faziam 60’. Os primeiros 2 kms foram feitos em 10 minutos, e já corria com pessoas ao meu ritmo. 

A corrida por Santos, onde tantas vezes passei para ir para o ISEG, pela 24 de Julho e até à Infante Santo correu a bom ritmo, 20 minutos aos 4 km. A seguir assim os 10 kms seriam aos 50 minutos, o que seria um grande tempo para mim. Estabilizamos a passada e íamos a correr um com o outro. Há um efeito motivacional na corrida em conjunto em que quando duas pessoas vão a correr lado a lado, a pessoa menos rápida tende a acelerar sem esforço adicional. Se calhar explanarei este assunto noutra posta, mais filosófica.

Depois de passarmos por baixo da ponte, voltamos para Lisboa, com um bom ritmo aos 5km, 25 minutos, e a miragem dos 50 minutos vai tomando forma.

Pouco depois, apanhamos o André N. que ainda vinha no sentido Lisboa – Alcântara a tirar fotos ao pessoal da Caixa.

Aos 6km começo a sentir uma dor no fim do pulmão direito e a ter dificuldade em manter o controlo da respiração. Basicamente estava a respirar a três tempos: duas passadas a inspirar e uma a expirar. Basicamente tenho dor de burro.

O Pedro avisa-me que estou a abrandar, e respondo-lhe que tenho dor de Burro, uma dor de iniciado e que fiquei a saber depois ser causado pelo facto de andar a correr a um ritmo superior ao que tenho vindo a treinar.

Aos 8 kms, já tinha um total de 41 minutos, um minuto para além do ritmo que vinha fazendo. Ainda assim o Pedro não desiste, motiva-me a apanhar o pessoal da Caixa que seguia 10 metros à frente.

Na ribeira das naus, a dor intensifica-se e abrando mais a passada. Nesta altura o Pedro ensina-me uns exercícios de respiração para dominar a dor, que me aliviam até passar a Praça do Comércio e entrar na Rua da Prata.

No entanto, bastaram dez metros de passada mais rápida para a dor voltar. O Pedro passa a inventar de tudo, mas de tudo, para me motivar. Passo a exemplificar:

Zé, embora lá, quando passares a meta vais correr com o manjerico nas mãos elevadas acima da cabeça como se fosse a Liga dos Campeões e com a musica por detrás.

Zé, vais fazer a cena do Usain Bolt – pôe-se a fazer o gesto no meio da rua.

Ou então vais festejar à Messi, com os indicadores apontados ao céu.


Zé, vês aquela Francesa? Ela anda-se a picar contigo desde o início da corrida.

No Rossio já inspirava e expirava a cada passada, tinha a respiração completamente descontrolada mas nunca parei, talvez devesse ter parado mas comigo, em prova nunca dei "uns passinhos". A francófona escapou... A Genaudeau Christelle ficou 7 segundos á minha frente e não, não apanhámos a Sofia.

Passamos a meta 52 minutos e 27 segundos depois da partida, tempo electrónico do chip. Terei ficado em 1.395º lugar em 2.323 corredores, 300º dos veteranos. Record batido, e toda a gente deve ter batido os seus recordes nesta corrida, excepto o Pedro que veio passear.


Fomos fazer os alongamentos da ordem junto do pessoal da CGD que se encontrava na fonte, e é aí que vislumbro por uma fracção de segundos, a Sofia a sair do recinto na zona da distribuição dos manjericos, com a camisa da CGD. Já não foi a tempo para a chamar e, tal como o recorde dos 50 minutos aos 10 kms, perdi-a na multidão.

Em resumo, foi muito positivo, muito bom ambiente, excelentes recordações, uma medalha, uma banana, um manjerico, uma revista Maxmen (muito importante) um record pessoal, o qual devo em grande parte ao coaching do Pedro. Para ele fica aqui um grande abraço.

Ah já me esquecia, a Sofia também bateu o recorde dela, 47:24 (tempo de chip) ficando em 21º entre as senhoras seniores. Ou melhor, em 20º se descontarmos a Jessica Augusto.

No final, mais uma vez como qualquer atleta de topo, vieram-me buscar de carro. Graças à Susaninha... Um luxo!

P.S. Ficou o bichinho dos 50 minutos a trabalhar algures num canto recondido na minha cabeça...

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