(Foto: André Noronha )
Para este mês de Junho tinha como grande objectivo
bater o meu recorde dos 10kms (55 minutos e 14 segundos oficiosos). Inscrevi-me Na
Corrida do Oriente e na do BES Run Lisboa, ambas com traçado rápido, mas como
já referi na crónica passada, basta uma
gastroenterite para nos mandar abaixo durante e depois da doença.
Enfim, a corrida do Oriente tinha corrido mal, era altura de erguer
a cabeça, levantar-me do chão e tentar o tudo por tudo nesta prova. Só a meio
da semana que antecedeu a prova, nos treinos, é que já sentia o corpo a reagir normalmente, sem
cansaços estranhos nem dores musculares.
A partida e chegada era no Rossio, uma área muito movimentada
de transito que ainda por cima estaria proibido, levantando problemas de acesso à zona. Felizmente
e como qualquer grande atleta tenho uma equipa fabulosa que trata da parte
logística, neste caso de me ir levar ao Rossio, sem ter de pensar onde arrumar
o carro nem pagar estacionamento, que é a minha mulher.
Assim cheguei à corrida da Concorrência, e há que
dizer que uma pessoa sente-se desconfortável rodeada de milhares de homens e
mulheres pululando pelo Rossio fora com camisas de uma cor esverdeado-fluorescente
a fazer publicidade ao BES. Sentia-me tão em casa como uma fatia de rosbife no
meio de uma sopa de alface.
Aqui tenho que fazer um interregno à crónica da corrida
e fazer uma referência ao que se passa à volta das provas propriamente ditas,
é que para além dos quilómetros, do traçado da pista, dos recordes que se
pretendem bater ou não, para além do exercício que se faz e das calorias que se
gastam, cada prova é sempre uma festa! É uma festa antes da partida, quando tudo
fervilha de ansiedade, é uma festa durante a corrida, quer para quem vai com
espírito de competição, quer quem vai para apreciar o passeio, e por fim, é uma
festa depois de passar a meta quando os participantes se encontram submergidos
em endorfinas a trocar impressões sobre a corrida. É esse espírito que se vive e é por isso que se corre também.
Bom, voltando à corrida depois de encontrar o
Pedro T., fizemos um aquecimento como deve ser e dirigimo-nos a um nicho de
pessoas orgulhosos numa conhecida camisa azul, sempre bem-dispostos, liderados
pelo André N. e ficamos mais à vontade. Era altura de explanarmos o plano para
a corrida:
Pedro: Então qual é o objectivo para hoje? É que
meteste umas coisas no FB que metem medo.
Zémi: É fazer algo abaixo dos 55 minutos, bater o
meu record, sentir-me a evoluir,e tu?
Pedro: Eu vou contigo!
Zémi: Ah muito bem, então vieste passear? (ele faz
os 10km em 45min)
Pese embora tenhamos ficado inscritos no Grupo dos
Mais60’ (um pouco insultuoso pensei, mas depois auto
repreendi-me por tal petulância), durante a entrada para a área de partida eu e
Pedro tentámos fluir na corrente, como quem não quer a coisa,assim sem querer, para
a box dos abaixo de 60’ para ganharmos alguns segundos, mas uma sargentona da
empresa de Segurança do Grupo BES, repreendeu-me por diversas vezes, pelo que
anuí e fiquei na cerca dos mais lentos.
Não encontrámos a Sofia, uma jovem simpática e muito
promissora com quem treinamos com alguma regularidade. Era a primeira vez que
iria correr com ela e seria engraçado partirmos todos juntos. Ainda pensei em
tentar apanha-la durante a corrida, mas depois lembrei-me, em primeiro lugar,
que ela partia do grupo dos sub50’ - a primeira box - e depois dos tempos que
ela anda a fazer aos 10km (48’), pelo que depreendi que estava a perseguir uma
ilusão e abandonei a ideia.
O coração foi acelerando pouco a pouco e... PARTIDA!
Saltei para a frente, tentei ultrapassar o máximo de pessoas possível em slalom, para sair da caixa humana
em que me encontrava e que se arrastava ao longo da Rua do Ouro. Não conseguia
sair, estava preso até que tive a ideia de de começar a correr pelas laterais
do passeio.
Fui eu a pensar assim... e mais uma série de gente. De
repente os turistas estrangeiros que se encontravam no passeio, que se pensavam
em segurança, todos contentes a tirar fotos à corrida, escondiam-se agora nos
beirais, atrás dos semáforos, de uma horda de corredores em fúria que faziam
tangentes aos bifes e às bifanas. Era o caos pela rua do Ouro abaixo. Viram-se cenas
muito divertidas, quer para para os corredores quer para os turistas, deve ter sido
algo de surreal.
O Pedro ia-me acompanhando, mas nunca comentámos entre
nós este inicio infernal, isto decorreu pela Rua do Ouro, rua do Arsenal até
chegarmos ao Cais do Sodré. Quando
passei pela praça da Ribeira ultrapassei a “lebre” dos que faziam 60’. Os
primeiros 2 kms foram feitos em 10 minutos, e já corria com pessoas ao meu
ritmo.
A corrida por Santos, onde tantas vezes passei
para ir para o ISEG, pela 24 de Julho e até à Infante Santo correu a bom ritmo,
20 minutos aos 4 km. A seguir assim os 10 kms seriam aos 50 minutos, o que seria
um grande tempo para mim. Estabilizamos a passada e íamos a correr um com o
outro. Há um efeito motivacional na corrida em conjunto em que quando duas
pessoas vão a correr lado a lado, a pessoa menos rápida tende a acelerar sem
esforço adicional. Se calhar explanarei este assunto noutra posta, mais
filosófica.
Depois de passarmos por baixo da ponte, voltamos para Lisboa,
com um bom ritmo aos 5km, 25 minutos, e a miragem dos 50 minutos vai tomando
forma.
Pouco depois, apanhamos o André N. que ainda vinha
no sentido Lisboa – Alcântara a tirar fotos ao pessoal da Caixa.
Aos 6km começo a sentir uma dor no fim do pulmão
direito e a ter dificuldade em manter o controlo da respiração. Basicamente
estava a respirar a três tempos: duas passadas a inspirar e uma a expirar.
Basicamente tenho dor de burro.
O Pedro avisa-me que estou a abrandar, e
respondo-lhe que tenho dor de Burro, uma dor de iniciado e que fiquei a saber depois
ser causado pelo facto de andar a correr a um ritmo superior ao que tenho vindo
a treinar.
Aos 8 kms, já tinha um total de 41 minutos, um
minuto para além do ritmo que vinha fazendo. Ainda assim o Pedro não desiste,
motiva-me a apanhar o pessoal da Caixa que seguia 10 metros à frente.
Na ribeira das naus, a dor intensifica-se e
abrando mais a passada. Nesta altura o Pedro ensina-me uns exercícios de
respiração para dominar a dor, que me aliviam até passar a Praça do Comércio e
entrar na Rua da Prata.
No entanto, bastaram dez metros de passada mais
rápida para a dor voltar. O Pedro passa a inventar de tudo, mas de tudo, para
me motivar. Passo a exemplificar:
Zé, embora lá, quando passares a meta vais correr
com o manjerico nas mãos elevadas acima da cabeça como se fosse a Liga dos
Campeões e com a musica por detrás.
Zé, vais fazer a cena do Usain Bolt – pôe-se a
fazer o gesto no meio da rua.
Ou então vais festejar à Messi, com os indicadores
apontados ao céu.
Zé, vês aquela Francesa? Ela anda-se a picar
contigo desde o início da corrida.
No Rossio já inspirava e expirava a cada passada,
tinha a respiração completamente descontrolada mas nunca parei, talvez devesse
ter parado mas comigo, em prova nunca dei "uns passinhos". A francófona escapou... A Genaudeau
Christelle ficou 7 segundos á minha frente e não, não apanhámos a Sofia.
Passamos a meta 52 minutos e 27 segundos depois da
partida, tempo electrónico do chip. Terei ficado em 1.395º lugar em 2.323
corredores, 300º dos veteranos. Record batido, e toda a gente deve ter batido os
seus recordes nesta corrida, excepto o Pedro que veio passear.
Fomos fazer os alongamentos da ordem junto do
pessoal da CGD que se encontrava na fonte, e é aí que vislumbro por uma fracção
de segundos, a Sofia a sair do recinto na zona da distribuição dos manjericos,
com a camisa da CGD. Já não foi a tempo para a chamar e, tal como o recorde dos
50 minutos aos 10 kms, perdi-a na multidão.
Em resumo, foi muito positivo, muito bom ambiente,
excelentes recordações, uma medalha, uma banana, um manjerico, uma revista Maxmen (muito importante) um record pessoal, o qual devo em grande parte ao coaching do Pedro. Para ele fica aqui um
grande abraço.
Ah já me esquecia, a Sofia também bateu o recorde
dela, 47:24 (tempo de chip) ficando em 21º entre as senhoras seniores. Ou
melhor, em 20º se descontarmos a Jessica Augusto.
No final, mais uma vez como qualquer atleta de topo, vieram-me buscar de carro. Graças à Susaninha... Um luxo!
P.S. Ficou o bichinho dos 50 minutos a trabalhar algures num canto recondido na minha cabeça...
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