Quando enviei o pedido de inscrição para as
corridas de Junho estava entusiasmadissimo com as corridas e decidi
inscrever-me em três provas – Corrida do
Oriente (02 de Junho), Corrida BES Run Lisboa (08 de Junho) e Marginal á Noite
(15 de Junho) – isto depois de fazer os 55 minutos (tempo oficioso) na corrida
do dia da mãe.
Treinei com afinco, com
regularidade e com determinação, e com ajuda dos meus companheiros nomeadamente
com a S. atingi os 48 minutos aos 9km, o que antevia mais um record pessoal aos
10km. Foi também nesta altura em que estreei os meus novos ténis para pronador.
Tudo corria bem!
A primavera despontava,
as flores desabrochavam e a vida fluía, até que, uma semana antes do evento, e
durante cinco longos dias uma gastroenterite me sugou a energia toda, me drenou
do corpo um quilo em água e nutrientes, e só me deixa voltar a treinar na 6ª
feira anterior à prova.
Não me levem a mal, continuo
entusiasmado com as corridas, mas às vezes a vida não corre como planeado e de
um momento para o outro temos que reequacionar os meus objectivos: naquele ultimo
treino, efectuado sempre em esforço, e que me correu mal como seria de esperar,
passei dos 48 min para os 51 min aos 9 kms, o que perspectivava agora um tempo
final de 56 minutos para os 10 kms. A confiança inicial com que ia para a prova
estava-se a desboroar.
No dia da prova, já com a
cabeça em regulada em espírito de passeio e sem grandes objectivos definidos, estacionei
num local que me pareceu intuitivamente perto da partida, seguindo-se a cena
surrealista: perguntei a uns policias preparados para organizar a prova onde é
que era o levantamento de dorsais, tendo estes retorquido que não sabiam e que
o melhor era perguntar na estação de policia (2 metros do outro da rua).
Assim fiz, fiz-me de
parvo, perguntei e lá dei com o portal de partida, e posteriormente com o pessoal
da Caixa, sempre muito simpático e organizado, e finalmente com o Rui.
Levantámos os dorsais, a tshirt da
ordem e fomos pôr as coisas ao carro.
Eu juro que normalmente
tenho um bom sentido de orientação, e que estacionei perto da prova, mas não
sei se foi efeitos da abstinência de café durante uma semana, parecia que
estava meio a dormir e não conseguia encontrar o carro ao ponto de ver que
íamos chegar atrasados à corrida. Enfim, depois de desistir de procurar e
quando nos dirigíamos para o carro do Rui, por engano, descobri o carro.
Bem, após voltarmos ao
portal de partida, e de um aquecimento mal feito, deu-se a partida. Sabia que o
Rui queria bater a sua melhor marca pessoal e fiquei à espera de o ver passar
logo no início. Nem o vi…
Os primeiros 3 kms em
ligeira subida em estrada de paralelepípedo, foram feitos em sofrimento e
grande esforço. Sentia os músculos das canelas presos, o peso das pernas a
arrastar-me, o peito a queimar, toda a gente me ultrapassava, por fim a doença
apresentava a sua factura. Dei graças por a corrida ser patrocinada pela
Servilusa, se me acontecesse alguma coisa tinha boleia para casa.
Olho para o relógio e
tenho 18:32, a fazer prever um tempo final acima da hora, uma vergonha. Metade
da minha cabeça pedia-me para parar de correr, e a outra metade gritava comigo
para me despachar, sendo que dentro de esta última garanto que ouvi a voz do
Pedro T. a gritar comigo e o vi a virar costas de desilusão.
A subida aliviou numa
pista plana, recupero um pouco e descubro algo que já devia ter percebido nos
treinos, os novos ténis pedem uma passada com o apoio em calcanhar e não a meio
do pé como habitualmente faço. A passada alonga, ganha velocidade sem grande
acréscimo adicional de esforço uma vez que o impacto é absorvido pelo material
Lunarglide da Nike (pausa para publicidade). Pena é que só resulte em terrenos
planos ou em descida, já que as subidas são feitas com o pé em “meia ponta”, aí
os ténis Adidas levam vantagem com a sola Adiprene (nova pausa para
publicidade).
Os túneis da Av. D. João
II dão alguma folga aos ombros e a corrida torna-se menos exasperante, aos 4 km
apanho o primeiro abastecimento de água e acelero um pouco e mantenho-me os
restantes 4km a correr atrás de uma Sofia (nome nas costas da camisa), que ia
mais depressa que eu. Curiosamente, correr atrás de Sofia acaba por ser uma
metáfora espiritual da minha vida.
Aos 6/7 kms dá-se o 2º
abastecimento de água e uma medição intermédia da prova. Gostava de ter estes
dados porque me parece que a 2ª metade da prova foi muito mais rápida que a
primeira, enfim aguardemos.
Ainda assim a corrida parecia
um ordálio interminável até “rotunda das girafas”, a Sul da Expo, quando
virámos para a Alameda dos Oceanos. Aos 8 kms, olho para o relógio e vejo que
vou com 45 minutos de corrida, o que a uma velocidade de 5 min/km me poderia
ainda garantir um tempo vistoso, dadas as circunstâncias.
Acelero, deixo a Sofia
para trás, motivo uma senhora dos SSCGD a ultrapassar uma senhora do Montepio,
entro na reta da meta em areia batida e corto a meta e sprintar, só pela piada.
Ainda assim com a sensação de que estes dois quilómetros finais me pareceram
demasiado longos.
Terminada a corrida, vou
ter com o Rui T., quase a dormir, que estava à quase 10 minutos à minha espera,
trocamos as primeiras impressões, cumprimentamos o pessoal da Caixa e fomos a
caminho do carro, conversa puxa conversa, esqueci-me outra vez de onde é que
estava o carro: “Zé então passaste pelo carro e nem o viste? Ai Zé ai Zé! – É
pá nem sei onde é que tenho a cabeça hoje, não vais pôr esta cena na crónica
pois não?”
Em conclusão, a corrida
soube-me a amargo de boca, soube-me a uma derrota com justificação e ao mesmo
tempo a uma vitória sobre as adversidades, mas também que conseguiria fazer melhor. Mas o passeio, o exercício e o
convívio compensam sempre. Aprende-se quando as coisas não correm bem,
levanta-se a cabeça, olha-se para a corrida do BES Run Lisboa à nossa frente,
arreganha-se os dentes e dizemos para nós próprios: Tu da próxima não escapas!
P.S. fiquei em 1.013º num
total de 1.634 corredores, com um tempo oficial de 57:06 (56:32 oficioso que
seriam 54:22 se o percurso tivesse apenas 10km e não os 10,4 km medidos por
vários GPS de outros corredores).
Tens bom ouvido pá......fui eu mesmo que gritei lá dos confins da Autoeuropa.
ResponderEliminarZémi....zémi .....vamos esticar essa passada...vamos vamos....
Se corresses tão bem como escreves. ......
NÃO QUERO VER FOLGAS NOS TREINOS SE NÃO JURO QUE VOU CHAMAR A SOFIA DO LUX (que no BI tem o nome de Carlos Jorge!)