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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Uma corrida com sabor a modos que... mais ou menos

Quando enviei o pedido de inscrição para as corridas de Junho estava entusiasmadissimo com as corridas e decidi inscrever-me em três provas  – Corrida do Oriente (02 de Junho), Corrida BES Run Lisboa (08 de Junho) e Marginal á Noite (15 de Junho) – isto depois de fazer os 55 minutos (tempo oficioso) na corrida do dia da mãe.

Treinei com afinco, com regularidade e com determinação, e com ajuda dos meus companheiros nomeadamente com a S. atingi os 48 minutos aos 9km, o que antevia mais um record pessoal aos 10km. Foi também nesta altura em que estreei os meus novos ténis para pronador. Tudo corria bem!

A primavera despontava, as flores desabrochavam e a vida fluía, até que, uma semana antes do evento, e durante cinco longos dias uma gastroenterite me sugou a energia toda, me drenou do corpo um quilo em água e nutrientes, e só me deixa voltar a treinar na 6ª feira anterior à prova.

Não me levem a mal, continuo entusiasmado com as corridas, mas às vezes a vida não corre como planeado e de um momento para o outro temos que reequacionar os meus objectivos: naquele ultimo treino, efectuado sempre em esforço, e que me correu mal como seria de esperar, passei dos 48 min para os 51 min aos 9 kms, o que perspectivava agora um tempo final de 56 minutos para os 10 kms. A confiança inicial com que ia para a prova estava-se a desboroar.

No dia da prova, já com a cabeça em regulada em espírito de passeio e sem grandes objectivos definidos, estacionei num local que me pareceu intuitivamente perto da partida, seguindo-se a cena surrealista: perguntei a uns policias preparados para organizar a prova onde é que era o levantamento de dorsais, tendo estes retorquido que não sabiam e que o melhor era perguntar na estação de policia (2 metros do outro da rua).

Assim fiz, fiz-me de parvo, perguntei e lá dei com o portal de partida, e posteriormente com o pessoal da Caixa, sempre muito simpático e organizado, e finalmente com o Rui. Levantámos os dorsais, a tshirt da ordem e fomos pôr as coisas ao carro.

Eu juro que normalmente tenho um bom sentido de orientação, e que estacionei perto da prova, mas não sei se foi efeitos da abstinência de café durante uma semana, parecia que estava meio a dormir e não conseguia encontrar o carro ao ponto de ver que íamos chegar atrasados à corrida. Enfim, depois de desistir de procurar e quando nos dirigíamos para o carro do Rui, por engano, descobri o carro.

Bem, após voltarmos ao portal de partida, e de um aquecimento mal feito, deu-se a partida. Sabia que o Rui queria bater a sua melhor marca pessoal e fiquei à espera de o ver passar logo no início. Nem o vi…


Os primeiros 3 kms em ligeira subida em estrada de paralelepípedo, foram feitos em sofrimento e grande esforço. Sentia os músculos das canelas presos, o peso das pernas a arrastar-me, o peito a queimar, toda a gente me ultrapassava, por fim a doença apresentava a sua factura. Dei graças por a corrida ser patrocinada pela Servilusa, se me acontecesse alguma coisa tinha boleia para casa.

Olho para o relógio e tenho 18:32, a fazer prever um tempo final acima da hora, uma vergonha. Metade da minha cabeça pedia-me para parar de correr, e a outra metade gritava comigo para me despachar, sendo que dentro de esta última garanto que ouvi a voz do Pedro T. a gritar comigo e o vi a virar costas de desilusão.

A subida aliviou numa pista plana, recupero um pouco e descubro algo que já devia ter percebido nos treinos, os novos ténis pedem uma passada com o apoio em calcanhar e não a meio do pé como habitualmente faço. A passada alonga, ganha velocidade sem grande acréscimo adicional de esforço uma vez que o impacto é absorvido pelo material Lunarglide da Nike (pausa para publicidade). Pena é que só resulte em terrenos planos ou em descida, já que as subidas são feitas com o pé em “meia ponta”, aí os ténis Adidas levam vantagem com a sola Adiprene (nova pausa para publicidade).

Os túneis da Av. D. João II dão alguma folga aos ombros e a corrida torna-se menos exasperante, aos 4 km apanho o primeiro abastecimento de água e acelero um pouco e mantenho-me os restantes 4km a correr atrás de uma Sofia (nome nas costas da camisa), que ia mais depressa que eu. Curiosamente, correr atrás de Sofia acaba por ser uma metáfora espiritual da minha vida.

Aos 6/7 kms dá-se o 2º abastecimento de água e uma medição intermédia da prova. Gostava de ter estes dados porque me parece que a 2ª metade da prova foi muito mais rápida que a primeira, enfim aguardemos.
Ainda assim a corrida parecia um ordálio interminável até “rotunda das girafas”, a Sul da Expo, quando virámos para a Alameda dos Oceanos. Aos 8 kms, olho para o relógio e vejo que vou com 45 minutos de corrida, o que a uma velocidade de 5 min/km me poderia ainda garantir um tempo vistoso, dadas as circunstâncias.

Acelero, deixo a Sofia para trás, motivo uma senhora dos SSCGD a ultrapassar uma senhora do Montepio, entro na reta da meta em areia batida e corto a meta e sprintar, só pela piada. Ainda assim com a sensação de que estes dois quilómetros finais me pareceram demasiado longos.

Terminada a corrida, vou ter com o Rui T., quase a dormir, que estava à quase 10 minutos à minha espera, trocamos as primeiras impressões, cumprimentamos o pessoal da Caixa e fomos a caminho do carro, conversa puxa conversa, esqueci-me outra vez de onde é que estava o carro: “Zé então passaste pelo carro e nem o viste? Ai Zé ai Zé! – É pá nem sei onde é que tenho a cabeça hoje, não vais pôr esta cena na crónica pois não?”


Em conclusão, a corrida soube-me a amargo de boca, soube-me a uma derrota com justificação e ao mesmo tempo a uma vitória sobre as adversidades, mas também que conseguiria fazer melhor. Mas o passeio, o exercício e o convívio compensam sempre. Aprende-se quando as coisas não correm bem, levanta-se a cabeça, olha-se para a corrida do BES Run Lisboa à nossa frente, arreganha-se os dentes e dizemos para nós próprios: Tu da próxima não escapas!


P.S. fiquei em 1.013º num total de 1.634 corredores, com um tempo oficial de 57:06 (56:32 oficioso que seriam 54:22 se o percurso tivesse apenas 10km e não os 10,4 km medidos por vários GPS de outros corredores).

1 comentário:

  1. Tens bom ouvido pá......fui eu mesmo que gritei lá dos confins da Autoeuropa.
    Zémi....zémi .....vamos esticar essa passada...vamos vamos....

    Se corresses tão bem como escreves. ......

    NÃO QUERO VER FOLGAS NOS TREINOS SE NÃO JURO QUE VOU CHAMAR A SOFIA DO LUX (que no BI tem o nome de Carlos Jorge!)

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