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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Missão Maratona – Maratona Rock n Roll Lisboa 2013

 - Bom dia!
- Então o que é que vai ser?
- Era uma maratona sff. Bem passada, pode ser?
- Bem passada, já não temos! Passou por aqui uma malta do Quénia e levou tudo!
- Bom, então mal passada.
- Eu vou dar aqui um calor para ficar mais “tenra”. 23 º, penso que já é o bastante!
- Obrigado.
- E para acompanhar?
- Banana, laranja e algum gel.
- Para beber?
- Agua e isotónica sff.
- Aqui está. Boa corrida então ….
- Obrigado!



O ANTES

Com o carro estacionado na expo, dirigi-me à Gare do Oriente. O dia amanhecia risonho!
Encontrei-me com o Ricardo e com o Rui.

Estávamos neste evento divididos ao meio: eu, o Ricardo e o Rui na maratona, Joel, Zemi e Sofia na Meia Maratona.

Decidimos apanhar o autocarro que passava no Cais do Sodré.
Uma viagem bem disposta!

Chegamos ao Cais do Sodré!
Em vez da prometida viagem grátis até Cascais, tivemos que desembolsar 50 cêntimos para usufruir da mesma.
É nesta “pobreza organizacional” que me envergonho quando vejo turistas a chegar ao meu pais.
Continuo a pensar que nós, portugueses, temos um problema de relacionamento com o dinheiro. Porque não o temos e porque poucos sabem ganhar de forma honrada. Talvez porque não haja honra e princípios de quem o usa para pagar quem trabalha. Adiante!


Estava com saudades de viajar por esta linha (Cais-Sodré/Cascais).
Passei a minha juventude de um lado para o outro: para ir trabalhar, para ir namorar, para ir “amigar”.

Gerou-se logo uma atmosfera olímpica.
O comboio ia cheio de atletas.
O entusiasmo crescia!

Chegada a Cascais.
Encontrámos o Filipe e o Pedro Ribeiro do Clube de Corrida.
A ânsia era visível!


Seguimos directamente para o inicio da prova.
Eu fui mudar de roupa numa escadaria algures, o Ricardo foi mandar um fax para o atlântico.

Fomos pôr os sacos com os nossos “trapos” no autocarro da organização, para estarem disponíveis no final da prova.

A ânsia estava no máximo: o Rui gritava, eu exercitava os músculos, o Ricardo não dava com o telemóvel e com os phones.

Deu para tirar umas fotos e aqui vamos nós…..



O DURANTE

Saímos de Cascais todos juntos, no embalo de 3 lebres com “muita saúde”!

O pelotão era uma massa de excitação em forma de correria.

Dali a nada estávamos no Estoril.
Fizemos a volta ao Casino e encontrámos um corredor de sapato de couro e meias à “Wall Street”. Quando passou por mim pensei que fosse algum “civil cheio de pressa. Afinal era o “atrofiado das corridas”, qual pirata que entra nas corridas a meio e deslumbra o pelotão com as suas proezas atléticas. Uma espécie de “atleta-sombra” do famoso corredor da bandeja e do copo de agua.
Mais tarde ainda iríamos apanha-lo a correr de costas! Um mimo!

São João do Estoril, Parede, Carcavelos, começava a “jogar em casa”. Aqui começava o meu local de treinos.

Veio-me à cabeça a 1º corrida/treino em 2010, 7 km´s que na altura deixou-me sem fôlego! Como as coisas evoluem …..

Entrámos em Oeiras. Estávamos sintonizados nos 6 mnts / km. Era o que se queria!

Entretanto o Ricardo e o Pedro Ribeiro ficaram para trás. Desejei boa sorte e esperei encontra-los no fim da corrida.

Na passagem à frente do edifício da câmara gritámos pelo Isaltino. Serviu para relaxar da tensão da corrida.

Paço de Arcos, Caxias e surpresa das surpresas, a corrida fio direccionada para o passeio paralelo ao mar, em vez da subida para o farol da Gibata. Penso que a subida terá ultrapassado a altimetria máxima para uma maratona.
De qualquer forma calhou bem!

Nesta altura, a ingestão era feita sobretudo com agua para a hidratação e alguma bebida isotónica que aparecia nos abastecimentos.
Erro foi não ter levado gel ou barra energética. Estava com uma fome medonha!

Antes de Algés passámos a barreira da meia maratona.
Metade já estava feita!

Em Algés apareceu o abastecimento de sólidos.
Devorei bananas e laranjas enquanto o Rui segurava-me a minha garrafa de agua.
À frente o Filipe chamava por nós!

Uma recta cansativa levou-nos a Belém, Alcântara e Santos.

Por fim, mais um abastecimento e entravamos nos 30 km´s.

Os pés começavam a “encarquilhar” por baixo e a linha de dor nos joelhos surgia como um aviso a ter em conta!
Até aqui, cansaço mas boa disposição e (fiquei espantado) sempre pessoas na rua a puxar e sempre companhia de outros atletas.
O meu receio de encontrar fases do percurso desertos de publico e atletas foi felizmente, um puro engano!
E havia sempre uma moto quatro da cruz vermelha disponível para dar apoio. Neste critério, a organização estava de parabéns.

Entrámos no Terreiro do Paço e o cansaço começava a atacar.
Fomos ajudados por uma massa humana que batia palmas e gritava connosco.
A volta à baixa de Lisboa foi feita num instante.

Entrámos para a ultima parte da corrida.

Quando passámos por Santa Apolónia perdemos o Filipe.
No abastecimento da zona voltei “a dar” na laranja e no gel, que a organização disponibilizava.
Erro fatal.
A laranja “acidificou” o processo digestivo. Duas hipóteses sugiram:

a)      Continuo a correr e vomito-me todo;
b)      Para e combato a acidez.

 
Decidi parar!
O Rui passou por mim, não sem antes me dizer para não parar!
Dentro do azar tive a sorte de encontrar um abastecimento próximo.
Enchi-me de agua e consegui diluir a acidez.
Voltei novamente à corrida!

Parecia que tinha passado um furacão por nós.
Uns corriam de lado, outros gemiam, vi corredores deitados no passeio. Enfim, era a “parede dos 30” a fazer miséria!

Tentava, com esperança, apanhar o Rui, mas t-shirt azul, nem vê-la!

De repente, vejo a rotunda da “Prorunner”. Estava quase!

Subo até à avenida principal do Parque das Nações e, espantado, vejo colegas da meia-maratona a puxar por nós.
Fantástico! – Pensei eu, eles ficaram cá para apoiar-nos na chegada.
Lá ao fundo, vejo o Eduardo, que tinha ido correr com o trio do JRR.

Fiquei super-motivado.

As pessoas iam dizendo, literalmente, quantos metros faltavam até à meta.

Reparei na volta do quarteirão, que surgia à minha frente.
Já está……já está!
Recebi o piso empedrado, como algodão se tratasse.

Olhei lá ao fundo a meta, as pessoas a aplaudir, fotógrafos. Um relógio mostrava 4H29m.

Então é assim que os maratonistas se sentem quando chegam à meta!

Sensação do caaaraaaaçaaaasssssssssss…………….



O DEPOIS

O cansaço era tanto, que pouco me lembro do que aconteceu nos minutos seguintes:

- Lembro-me de ter passado por alguém da organização e de lhe ter, literalmente, tirado o gelado-oferta da mão.

- Fui encostado por uma amazonas a um biombo e lá, foi tirada uma foto.


- Lembro-me de passar pela saída do recinto de chegada dos atletas, ver dezenas de caras a procurar os “seus” atletas e de repente aparecer o Eduardo a perguntar-me como estava.

Mais tarde cheguei à seguinte conclusão:

Quem corre uma maratona (ainda por cima pela 1ª vez), deve ter alguém no final.
Devia ser obrigatório!
Não é só para o caso de acontecer algo de grave ou até mesmo para o levar a casa.
É para uma coisa ainda mais importante e que naquela altura é uma necessidade quase básica: ABRAÇAR!
Deixo o conselho para quem vai correr pela 1ª vez a maratona: levem alguém: Família, o vizinho, o cão, um(a) acompanhante de luxo………..mas levem alguém!
As organizações das provas  deixo uma sugestão:  arranjem uns voluntários e ponham-nos no fim da meta. Podem chamar-lhes: ABRACEIROS!
Ponham-nos a dar abraços aos atletas que chegam. Não há nada que pague um bom abraço na meta!  A sério!

Fiquei contente por ter o Eduardo na chegada. Afinal o homem tinha ficado, desde a sua chegada da meia maratona, à minha espera.
Valorizei bastante os acto. Mas também valorizei o ombro e lá fui eu apoiado até ao “meeting point” da chegada.

A meio apareceu a Sofia e mais um abraço.
Falei com ambos sobre a meia maratona. Tudo tinha corrido bem com eles.

O nosso “meeting point” era um dos “vulcões de agua” existentes perto do Pavilhão Atlântico.

Lá ao fundo já via o Rui a bracejar.

Mais um abraço.
Tinha conseguido chegar até ao fim sem parar!
Grande participação!
Estava eufórico! Estávamos todos!
Aproveitámos para molhar os pés na agua do “vulcão”. E que bem que soube!

Logo depois chegou o Ricardo com o restante agregado. E com eles trouxe um buffet de queques de chocolate.
Tinha feito a chegada à meta com os miúdos “pela mão”. Tal e qual como imaginara. Luxo!

Entretanto fui buscar o Filipe num banco próximo, a recuperar do esforço despendido. Tinha sido extenuante!

O Pedro Ribeiro já estava com a família depois de uma chegada também emocionada.

O pelotão tinha chegado ao destino.
Estava na hora de levantar acampamento.
Estava na hora de pôr as pernas a descansar.

Se me perguntarem se me sinto diferente por ter feito uma maratona, eu direi que sim!
Porquê? Não sei.
No final da prova concluía que 42 km´s é de facto uma extensão complicada de “digerir”. E fazê-lo sozinho não é para todos. Valorizei bastante todos aqueles atletas que começaram a prova sozinhos. É preciso uma enorme força mental. Parabéns a todos eles!

A condição humana tem destas coisas.
O distanciamento das coisas gera outra “luz” nas análises efectuadas.
Acabei a maratona a pensar que esta seria a única maratona que participava.
48 Horas depois, a meia da redacção deste texto, dei-me conta de estar a folhear, na revista cedida pela organização, as paginas contendo as maratonas existentes no próximo ano…….

…………..A PATROA NÃO VAI GOSTAR DISTO…………..   



8 comentários:

  1. MUITOS PARABÉNS!!! e um grande ABRAÇO!!!

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  2. Espetáculo!!!

    Agora... é desinchar e correr!! :)

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  3. A verdade é que foi um dia muito bem passado e para a amigos que fizeram a Maratona, tenho a certeza que foi uma experiência fantástica. Espero um dia estar em condições para poder realizar uma prova desta distância na V/ companhia :)

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  4. Ainda bem que não ficaste na esplanada do restaurante antes da prova...
    Muito bom! :)
    O Rui já lançou o repto ...
    Queres ver que é para o ano, na 2a edição da Rock n' Roll que há mais alguém que se junta aos 42 kms?!...

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  5. Muitos parabéns. Uma maratona é mesmo um grande feito. Quem sabe se no próximo ano serei eu a estrear-me nos 42195 metros.
    De uma coisa me lembrarei. Tenho que levar alguém para ser meu ABRACEIRO. :)
    Abraço. Boa recuperação e boas corridas.

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  6. Parabens Pedro, Ricardo e Rui...
    Percebo bem o que dizem, tudo o que dizem!!! Alguém disse um dia que quem faz uma Maratona passa a ver as dificuldades de maneira diferente... e concordo!
    O sofrimento que se passa numa 1ª Maratona só é suplantado por um querer do tamanho do mundo, e é uma marca que fica para a eternidade...
    Optei ao invés do abraceiro, pela Acompanhante de Luxo (no sentido real do termo Luxo :))... A Sofia "Mota" (como vocês carinhosamente a tratam) deu-me um que conseguiu enxaguar as lágrimas que me estravasavam o sentimento de um ano alucinante...
    Quanto a Maratonas, será uma na Primavera preparada com seriedade e para viajar, e uma no Outono em Portugal para disfrutar... E quem sabe um dia acompanhar a Sofia "Mota" ajudando-a também a completar uma e a retribuir o abraço no final :)

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  7. Abraceiros. Grande ideia. Vamos patentear isso?

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  8. Parabéns por teres realizado com sucesso a "Missão Maratona" (como tu lhe chamaste)!
    Na minha perspectiva, sabes disfrutar muito bem das corridas e das experiências que proporcionam. Fantástico!
    Agora lembrei-me do 1ºtreino que fiz contigo :) Lembras-te daquele sprint no final do treino de 10 kms na Quinta das Conchas? Grande sprint :)
    Um grande abraço


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