- Então o que é que vai
ser?
- Era uma maratona sff.
Bem passada, pode ser?
- Bem passada, já não
temos! Passou por aqui uma malta do Quénia e levou tudo!
- Bom, então mal passada.
- Eu vou dar aqui um
calor para ficar mais “tenra”. 23 º, penso que já é o bastante!
- Obrigado.
- E para acompanhar?
- Banana, laranja e algum
gel.
- Para beber?
- Agua e isotónica sff.
- Aqui está. Boa corrida
então ….
- Obrigado!
O ANTES
Com o carro estacionado
na expo, dirigi-me à Gare do Oriente. O dia amanhecia risonho!
Encontrei-me com o
Ricardo e com o Rui.
Estávamos neste evento
divididos ao meio: eu, o Ricardo e o Rui na maratona, Joel, Zemi e Sofia na
Meia Maratona.
Decidimos apanhar o autocarro
que passava no Cais do Sodré.
Uma viagem bem disposta!
Chegamos ao Cais do
Sodré!
Em vez da prometida
viagem grátis até Cascais, tivemos que desembolsar 50 cêntimos para usufruir da
mesma.
É nesta “pobreza
organizacional” que me envergonho quando vejo turistas a chegar ao meu pais.
Continuo a pensar que
nós, portugueses, temos um problema de relacionamento com o dinheiro. Porque
não o temos e porque poucos sabem ganhar de forma honrada. Talvez porque não
haja honra e princípios de quem o usa para pagar quem trabalha. Adiante!
Estava com saudades de
viajar por esta linha (Cais-Sodré/Cascais).
Passei a minha juventude
de um lado para o outro: para ir trabalhar, para ir namorar, para ir “amigar”.
Gerou-se logo uma
atmosfera olímpica.
O comboio ia cheio de
atletas.
O entusiasmo crescia!
Chegada a Cascais.
Encontrámos o Filipe e o
Pedro Ribeiro do Clube de Corrida.
A ânsia era visível!
Seguimos directamente
para o inicio da prova.
Eu fui mudar de roupa
numa escadaria algures, o Ricardo foi mandar um fax para o atlântico.
Fomos pôr os sacos com os
nossos “trapos” no autocarro da organização, para estarem disponíveis no final
da prova.
A ânsia estava no máximo:
o Rui gritava, eu exercitava os músculos, o Ricardo não dava com o telemóvel e
com os phones.
Deu para tirar umas fotos
e aqui vamos nós…..
O DURANTE
Saímos de Cascais todos
juntos, no embalo de 3 lebres com “muita saúde”!
O pelotão era uma massa
de excitação em forma de correria.
Dali a nada estávamos no
Estoril.
Fizemos a volta ao Casino
e encontrámos um corredor de sapato de couro e meias à “Wall Street”. Quando
passou por mim pensei que fosse algum “civil cheio de pressa. Afinal era o
“atrofiado das corridas”, qual pirata que entra nas corridas a meio e deslumbra
o pelotão com as suas proezas atléticas. Uma espécie de “atleta-sombra” do
famoso corredor da bandeja e do copo de agua.
Mais tarde ainda iríamos
apanha-lo a correr de costas! Um mimo!
São João do Estoril,
Parede, Carcavelos, começava a “jogar em casa”. Aqui começava o meu local de
treinos.
Veio-me à cabeça a 1º
corrida/treino em 2010, 7 km´s que na altura deixou-me sem fôlego! Como as
coisas evoluem …..
Entrámos em Oeiras.
Estávamos sintonizados nos 6 mnts / km. Era o que se queria!
Entretanto o Ricardo e o
Pedro Ribeiro ficaram para trás. Desejei boa sorte e esperei encontra-los no
fim da corrida.
Na passagem à frente do
edifício da câmara gritámos pelo Isaltino. Serviu para relaxar da tensão da
corrida.
Paço de Arcos, Caxias e
surpresa das surpresas, a corrida fio direccionada para o passeio paralelo ao
mar, em vez da subida para o farol da Gibata. Penso que a subida terá
ultrapassado a altimetria máxima para uma maratona.
De qualquer forma calhou
bem!
Nesta altura, a ingestão
era feita sobretudo com agua para a hidratação e alguma bebida isotónica que
aparecia nos abastecimentos.
Erro foi não ter levado
gel ou barra energética. Estava com uma fome medonha!
Antes de Algés passámos a
barreira da meia maratona.
Metade já estava feita!
Em Algés apareceu o
abastecimento de sólidos.
Devorei bananas e
laranjas enquanto o Rui segurava-me a minha garrafa de agua.
À frente o Filipe chamava
por nós!
Uma recta cansativa
levou-nos a Belém, Alcântara e Santos.
Por fim, mais um
abastecimento e entravamos nos 30 km´s.
Os pés começavam a
“encarquilhar” por baixo e a linha de dor nos joelhos surgia como um aviso a
ter em conta!
Até aqui, cansaço mas boa
disposição e (fiquei espantado) sempre pessoas na rua a puxar e sempre
companhia de outros atletas.
O meu receio de encontrar
fases do percurso desertos de publico e atletas foi felizmente, um puro engano!
E havia sempre uma moto
quatro da cruz vermelha disponível para dar apoio. Neste critério, a
organização estava de parabéns.
Entrámos no Terreiro do
Paço e o cansaço começava a atacar.
Fomos ajudados por uma
massa humana que batia palmas e gritava connosco.
A volta à baixa de Lisboa
foi feita num instante.
Entrámos para a ultima
parte da corrida.
Quando passámos por Santa
Apolónia perdemos o Filipe.
No abastecimento da zona
voltei “a dar” na laranja e no gel, que a organização disponibilizava.
Erro fatal.
A laranja “acidificou” o
processo digestivo. Duas hipóteses sugiram:
a) Continuo a correr e vomito-me todo;
b) Para e combato a acidez.
Decidi parar!
O Rui passou por mim, não
sem antes me dizer para não parar!
Dentro do azar tive a
sorte de encontrar um abastecimento próximo.
Enchi-me de agua e
consegui diluir a acidez.
Voltei novamente à
corrida!
Parecia que tinha passado
um furacão por nós.
Uns corriam de lado,
outros gemiam, vi corredores deitados no passeio. Enfim, era a “parede dos 30”
a fazer miséria!
Tentava, com esperança,
apanhar o Rui, mas t-shirt azul, nem vê-la!
De repente, vejo a
rotunda da “Prorunner”. Estava quase!
Subo até à avenida
principal do Parque das Nações e, espantado, vejo colegas da meia-maratona a
puxar por nós.
Fantástico! – Pensei eu,
eles ficaram cá para apoiar-nos na chegada.
Lá ao fundo, vejo o
Eduardo, que tinha ido correr com o trio do JRR.
Fiquei super-motivado.
As pessoas iam dizendo,
literalmente, quantos metros faltavam até à meta.
Reparei na volta do
quarteirão, que surgia à minha frente.
Já está……já está!
Recebi o piso empedrado,
como algodão se tratasse.
Olhei lá ao fundo a meta,
as pessoas a aplaudir, fotógrafos. Um relógio mostrava 4H29m.
Então é assim que os
maratonistas se sentem quando chegam à meta!
Sensação do
caaaraaaaçaaaasssssssssss…………….
O DEPOIS
O cansaço era tanto, que
pouco me lembro do que aconteceu nos minutos seguintes:
- Lembro-me de ter
passado por alguém da organização e de lhe ter, literalmente, tirado o
gelado-oferta da mão.
- Fui encostado por uma
amazonas a um biombo e lá, foi tirada uma foto.
- Lembro-me de passar
pela saída do recinto de chegada dos atletas, ver dezenas de caras a procurar
os “seus” atletas e de repente aparecer o Eduardo a perguntar-me como estava.
Mais tarde cheguei à
seguinte conclusão:
Quem corre uma maratona
(ainda por cima pela 1ª vez), deve ter alguém no final.
Devia ser obrigatório!
Não é só para o caso de
acontecer algo de grave ou até mesmo para o levar a casa.
É para uma coisa ainda
mais importante e que naquela altura é uma necessidade quase básica: ABRAÇAR!
Deixo o conselho para
quem vai correr pela 1ª vez a maratona: levem alguém: Família, o vizinho, o
cão, um(a) acompanhante de luxo………..mas levem alguém!
As organizações das
provas deixo uma sugestão: arranjem uns voluntários e ponham-nos no fim
da meta. Podem chamar-lhes: ABRACEIROS!
Ponham-nos a dar abraços
aos atletas que chegam. Não há nada que pague um bom abraço na meta! A sério!
Fiquei contente por ter o
Eduardo na chegada. Afinal o homem tinha ficado, desde a sua chegada da meia
maratona, à minha espera.
Valorizei bastante os
acto. Mas também valorizei o ombro e lá fui eu apoiado até ao “meeting point”
da chegada.
A meio apareceu a Sofia e
mais um abraço.
Falei com ambos sobre a
meia maratona. Tudo tinha corrido bem com eles.
O nosso “meeting point”
era um dos “vulcões de agua” existentes perto do Pavilhão Atlântico.
Lá ao fundo já via o Rui
a bracejar.
Mais um abraço.
Tinha conseguido chegar
até ao fim sem parar!
Grande participação!
Estava eufórico!
Estávamos todos!
Aproveitámos para molhar
os pés na agua do “vulcão”. E que bem que soube!
Logo depois chegou o
Ricardo com o restante agregado. E com eles trouxe um buffet de queques de
chocolate.
Tinha feito a chegada à
meta com os miúdos “pela mão”. Tal e qual como imaginara. Luxo!
Entretanto fui buscar o
Filipe num banco próximo, a recuperar do esforço despendido. Tinha sido
extenuante!
O Pedro Ribeiro já estava
com a família depois de uma chegada também emocionada.
O pelotão tinha chegado
ao destino.
Estava na hora de
levantar acampamento.
Estava na hora de pôr as
pernas a descansar.
Se me perguntarem se me
sinto diferente por ter feito uma maratona, eu direi que sim!
Porquê? Não sei.
No final da prova
concluía que 42 km´s é de facto uma extensão complicada de “digerir”. E fazê-lo
sozinho não é para todos. Valorizei bastante todos aqueles atletas que
começaram a prova sozinhos. É preciso uma enorme força mental. Parabéns a todos
eles!
A condição humana tem
destas coisas.
O distanciamento das
coisas gera outra “luz” nas análises efectuadas.
Acabei a maratona a
pensar que esta seria a única maratona que participava.
48 Horas depois, a meia
da redacção deste texto, dei-me conta de estar a folhear, na revista cedida pela
organização, as paginas contendo as maratonas existentes no próximo ano…….
…………..A PATROA NÃO VAI
GOSTAR DISTO…………..
MUITOS PARABÉNS!!! e um grande ABRAÇO!!!
ResponderEliminarEspetáculo!!!
ResponderEliminarAgora... é desinchar e correr!! :)
A verdade é que foi um dia muito bem passado e para a amigos que fizeram a Maratona, tenho a certeza que foi uma experiência fantástica. Espero um dia estar em condições para poder realizar uma prova desta distância na V/ companhia :)
ResponderEliminarAinda bem que não ficaste na esplanada do restaurante antes da prova...
ResponderEliminarMuito bom! :)
O Rui já lançou o repto ...
Queres ver que é para o ano, na 2a edição da Rock n' Roll que há mais alguém que se junta aos 42 kms?!...
Muitos parabéns. Uma maratona é mesmo um grande feito. Quem sabe se no próximo ano serei eu a estrear-me nos 42195 metros.
ResponderEliminarDe uma coisa me lembrarei. Tenho que levar alguém para ser meu ABRACEIRO. :)
Abraço. Boa recuperação e boas corridas.
Parabens Pedro, Ricardo e Rui...
ResponderEliminarPercebo bem o que dizem, tudo o que dizem!!! Alguém disse um dia que quem faz uma Maratona passa a ver as dificuldades de maneira diferente... e concordo!
O sofrimento que se passa numa 1ª Maratona só é suplantado por um querer do tamanho do mundo, e é uma marca que fica para a eternidade...
Optei ao invés do abraceiro, pela Acompanhante de Luxo (no sentido real do termo Luxo :))... A Sofia "Mota" (como vocês carinhosamente a tratam) deu-me um que conseguiu enxaguar as lágrimas que me estravasavam o sentimento de um ano alucinante...
Quanto a Maratonas, será uma na Primavera preparada com seriedade e para viajar, e uma no Outono em Portugal para disfrutar... E quem sabe um dia acompanhar a Sofia "Mota" ajudando-a também a completar uma e a retribuir o abraço no final :)
Abraceiros. Grande ideia. Vamos patentear isso?
ResponderEliminarParabéns por teres realizado com sucesso a "Missão Maratona" (como tu lhe chamaste)!
ResponderEliminarNa minha perspectiva, sabes disfrutar muito bem das corridas e das experiências que proporcionam. Fantástico!
Agora lembrei-me do 1ºtreino que fiz contigo :) Lembras-te daquele sprint no final do treino de 10 kms na Quinta das Conchas? Grande sprint :)
Um grande abraço