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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Lance Armstrong, a morte de um herói

Hoje acordei triste, decepcionado, com um sentimento de traição. Estive acordado até às 4h da manhã a ver a entrevista que Lance Armstrong deu a Oprah Winfrey, na qual confessou que era um dopado. Para mim foi a morte de um herói.

Sempre gostei de heróis. Quando era pequeno idolatrava o Super-Homem, o Batman, o Homem-Aranha, Zorro, entre muitos outros. Lia os livros, via os desenhos-animados e os filmes criados à volta destas personagens imaginárias. Mas um tipo vai crescendo e aquilo que parece natural aos 10, 12 ou 14 anos, começa a ser ridículo quando se atinge uma certa idade. Sim, continuava a gostar deles, mas eram apenas histórias. Precisava de encontrar um herói real. Em 1999 ele apareceu. Lance Armstrong regressava, depois de uma batalha pela vida e aparecia triunfante. Vencido o cancro ele não se contentou em viver com humildade e agradecer o facto de ter sobrevivido. Ele queria mais e foi à procura disso. Chegou e venceu, não uma ou duas, mas sete vezes. Estava encontrado o herói. Agora, mais de uma década depois, esse herói morreu... Não, morreu não é a palavra mais adequada... Ele afinal nunca existiu. Assim é que é.

Lance Armstrong, como herói, só existiu devido ao imaginário de Lance Armstrong, a fraude desportiva. Ele construiu uma história de sucesso em seu redor e levou-nos a todos a acreditar. Eu acreditei. Eu pedalava com ele, curvado nos contra-relógios, em busca dos segundos necessários à vitória; eu punha-me em pé na bicicleta com ele, determinado a vencer as mais duras subidas nos Alpes franceses. Eu via-me ali, em cima daquela bicicleta. Sofria com Lance como se cada gota de suor que ele deitasse do corpo fosse também minha. Hoje, afinal, sei que as minhas pequenas gotas de suor nos meus treinos são mais valiosas que as dele.

O argumento que deu a Oprah foi que as regras assim o permitiam. Todos sabiam as regras e todos sabiam como as contornar. Quem não o fez foi porque não quis. Isso não serve de desculpa para nada. NADA. Lance Armstrong tomou de assalto uma das competições mais espectaculares do planeta e tornou-a numa fraude. Quem era o justo vencedor do Tour entre 1999 e 2005? Quem? o 2º classificado? o 56º? Quem, afinal?

Mas Armstrong não se limitou a vencer e a fazer fortuna com essas vitórias. Ao longo de todos estes anos, em que todos lhe apontavam dedos, ele abriu processos judiciais, insultou pessoas, destruiu carreiras a profissionais que, afinal, falavam a verdade.

Para mim Lance morreu na madrugada de ontem, mais exactamente às 2h03 minutos, quando respondeu SIM à primeira pergunta de Oprah, sobre se tinha consumido substâncias dopantes proibidas. Agora só espero que seja perseguido em todas as medidas da lei, desportiva e criminal. Se outros foram para a prisão, espero que também ele vá fazer flexões no chão de uma cela. E durante sete anos, no mínimo, um por cada um dos Tours de ludribiou.

Mas não sei se tal irá acontecer. Sinceramente o passo seguinte será um dia alguém encontrar Lance morto, com uma bala na cabeça ou uma corda enrolada à volta do pescoço. Para mim é o passo natural a dar. E pode fazê-lo aqui, no meio de todos os seus troféus imaginários.

1 comentário:

  1. Se for preso, o que duvido, é bem capaz de se tornar "somebody's bitch"...

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