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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Mail Genial

ATENÇÃO: Este texto NÃO é da minha autoria, e chegou-me hoje à minha caixa de correio eletrónico. Sem saber se o autor foi o remetente do mail ou outra pessoa qualquer, vou aqui replicá-lo por achar que vale a pena partilhar. Muito interessante mesmo. Feita esta ressalva, aqui vai:



"Há três mistérios relacionados com a corrida que ainda ninguém conseguiu explicar.

Primeiro: o que faz do ser humano o animal terrestre com mais endurance à face da terra, conseguindo mais facilmente cobrir longas distâncias do que qualquer outro? Em termos de velocidade, o ser humano é um aselha: cães, esquilos, leões, cavalos, burros, esquilos, lobos, coiotes, elefantes, girafas, avestruzes, veados, linces, antílopes, cabras, gazelas, gnus, ursos, rinocerontes, javalis, gorilas, chitas… são todos mais rápidos do que o ser humano. A chita, o animal mais rápido à face da terra, consegue atingir velocidades máximas de 120 km/h, enquanto que o ser humano – aqui representado pelo recordista do mundo dos 100 metros Usain Bolt – se fica pelos 44km/h. Agora no que toca a longas distâncias, aí, meus amigos, aí ninguém nos bate. Peguem no Scott Jurek, peguem num animal à vossa escolha, coloquem-nos lado a lado às portas do Mosteiro dos Jerónimos, dêem o tiro de partida e depois vamos ver quem primeiro consegue chegar ao estádio do dragão e nele dar uma volta de honra… ah, esperem, é verdade, o estádio do dragão, assim como todos os demais estádios construídos aquando do Euro 2004, foram concebidos sem pista de atletismo… enfim, vocês percebem onde eu quero chegar. Aposto o que quiserem que primeiro chegaria o Homem; não porque o Homem é mais forte, não porque o Homem é mais rápido, não porque o Homem é mais inteligente, mas apenas porque o Homem transpira mais. Não há paralelo no reino animal de uma outra espécie dotada com tão grande capacidade sudorífera, capaz de regular a temperatura corporal melhor do que qualquer outra. Imaginemos, por momentos, para efeitos comparativos, que o adversário do Scott Jurek é um cavalo: aconteceria que o cavalo, embora mais rápido, teria, ao contrário do Scott, de parar de tempos a tempos de maneira a diminuir a sua temperatura corporal, que no seu caso é apenas possível – tanto no cavalo como na maioria dos animais terrestres – por meio da respiração; e apenas através da respiração não é possível regular a temperatura corporal em movimento, pelo que o animal (qualquer outro animal) teria obrigatoriamente de parar sob pena de morrer por exaustão. Para que não restem dúvidas, resta-me dizer que esta experiência já foi levada a cabo – não em Portugal – e que o Homem levou a melhor sobre o cavalo. No sentido de tout de suite eliminar a dúvida que neste momento assola o vosso cérebro, quero-vos assegurar (com a máxima convicção com que alguém pode assegurar seja o que for) que o tal do Scott seria capaz de correr – correr, não caminhar – entre Lisboa e Porto sem parar e que fá-lo-ia, tendo em conta que são 300 e poucos km, em cerca de 24 horas. No que às longas distâncias diz respeito, daqui pode-se portanto concluir que a rapidez dos outros animais não compensa o facto destes se verem obrigados a parar para regularizar a sua temperatura corporal – pois quando param, param mesmo, e durante longos períodos de tempo, nomeadamente se a temperatura ambiente for elevada.

Segundo: como explicar o facto das mulheres se aproximarem dos homens em termos competitivos à medida que a distância aumenta? Falando de velocidade pura e crua, a mulher é uma aselha em comparação com o homem: faça-se uma corrida entre os campeões olímpicos masculino e feminino dos 100 metros e o macho, sem apelo nem agravo, dá uma banhada à mulher, deixando-a a quase 1 segundo e meio – o que, em termos de distância, corresponde a cerca de 15 metros. No entanto, se ao invés dos 100 metros estivermos a falar de uma Ultramaratona, nomeadamente daquelas para cima de 100 milhas (160 km), nesse caso o caso muda radicalmente de figura: não é a regra, é certo, mas já por mais de uma vez mulheres houveram que ganharam provas deste calibre – e desconfio que só não ganham mais porque os seus níveis de participação neste e noutros tipos de eventos desportivos é consideravelmente inferior ao dos homens – sendo que regularmente as podemos encontrar no top 10 das Ultramaratonas mais cotadas do mundo.

Terceiro: como explicar a gradual porém diminuta perda de performance que um atleta experimenta ao longo dos anos em provas de longa distância? Explicando de outro modo, através de um exemplo: em termos estatísticos, se uma pessoa – homem ou mulher – com 19 anos e sem passado de prática desportiva começasse hoje a treinar com vista a uma Maratona a realizar daqui a 4 meses, o mais provável é que o resultado que ele ou ela obteria seria o mesmo que ele ou ela conseguiria eventualmente obter com 67 anos de idade, à condição de que durante esse tempo (entre os 19 e os 67) ele ou ela tivesse regularmente continuado a treinar e a participar em Maratonas. Estudos mostram que os atletas que começam a treinar para a Maratona à volta dos 19 anos atingem o seu pico de performance desportiva por volta dos 27, 28 anos, e que só cerca de 40 anos depois voltam ao ponto onde estavam aos 19 anos. Pondo as coisas de uma forma mais simples e ao mesmo tempo mais rural e sofisticada, a pergunta a fazer é a seguinte: porque raio é que os velhos são tão bons when it comes to provas de longa distância?

Agora imaginem que há uma teoria recente, que dá pelo nome de “A hipótese da corrida de endurance”, capaz de explicar os três mistérios acima brilhantemente expostos. A “hipótese da corrida de endurance” sustenta que – e aqui vou citar a wikipedia – “antes da invenção da lança, a primeira arma de projéctil, há 200.000 anos atrás, os humanos antigos usariam a caça de persistência (também conhecida como caça por exaustão), em que, ao invés de tentar superar os animais pela velocidade, estes seriam perseguidos ao longo de grandes distâncias até entrarem em sobreaquecimento, sendo depois mortos por meio de um objecto pontiagudo. Assim, as adaptações que favoreçam a capacidade de correr longas distâncias teriam sido favorecidas nos seres humanos. Depois das armas de projéctil terem sido desenvolvidas – em tempos evolutivamente recentes – a importância da corrida de longa distância diminuiu, mas as características permaneceram. A descrição da teoria explica, por si só, o primeiro dos mistérios. Quanto ao segundo e terceiro, estes decorrem simplesmente do facto de toda a comunidade ter obrigatoriamente de se deslocar atrás da caça, o que inclui os velhos e as mulheres. Como é fácil de perceber, não faria qualquer sentido perseguir um veado até à exaustão durante 100 km e depois ter de voltar com o veado às costas para alimentar a família; tivessem telemóvel e enviariam um sms com a localização do jantar, mas naquela altura apenas os homens caçavam e, como se sabe, os homens detestam mandar sms. É sabido, por outro lado, que as mulheres com crianças lactantes são as que mais beneficiam das proteínas da carne; e que é perfeitamente natural pressupor que a experiência dos indivíduos mais velhos fosse indispensável durante a caça com vista a, por exemplo, escolher qual presa perseguir ou, segundo exemplo, indicar a direcção que a caça deve tomar através da leitura de pistas, como seja o caso de pegadas. Aquilo que para mim, no entanto, melhor sustenta esta teoria são as características directamente associadas ao acto de correr que ainda hoje podemos encontrar no corpo humano e que pouco ou nada têm a ver com o simples acto de caminhar. Eis umas quantas:
(1) ausência de pêlo e a abundância de glândulas sudoríferas como mecanismo de perda de calor;
(2) dedos dos pés pequenos;
(3) músculos dos glúteos enormes (que ajudam a manter o equilíbrio durante a corrida);
(4) a conhecida capacidade humana para a endurance em provas tais como as Ultramaratonas;
(5) a tendência para armazenar gordura corporal (que funciona como reserva energética aquando da realização de esforços prolongados);
(6) pernas compridas e tendões que funcionam como molas;
(7) intolerância por um estilo de vida sedentário, no que toca à obesidade, diabetes e outras doenças;
(8) capacidade de respirar pela boca enquanto se corre.
E agora imaginem que há uma tribo de superatletas no México que atestam grande parte do que foi dito anteriormente. Os “Tarahumara” são uma tribo que remontam à época dos Azetecas e que, ao invés destes, decidiram fugir quando os conquistadores espanhóis apareceram para tomar o seu território. Os Azetecas ficaram, lutaram e acabaram dizimados; os Tarahumara, por seu lado, ainda hoje podem ser encontrados ao longo de uma rede de cordilheiras recônditas do norte do México. E o mais incrível é que ainda hoje conservam o estilo de vida seguido pelos seus antepassados: já não caçam por exaustão, é certo, mas ainda mantêm um nível de actividade física fora do comum que lhes permite, por exemplo, cobrir quase 700km em 2 dias. Descalços. Se não acreditam, vejam com os vossos próprios olhos o vídeo abaixo publicado. Parte do seu segredo tem a ver com a alimentação – de entre a qual se destaca uma espécie de cerveja caseira com baixo teor em álcool e elevado teor em hidratos de carbono – e com o facto de, justamente, correrem descalços. Correr descalço não é uma desvantagem, muito pelo contrário: correr descalço é a forma mais natural de correr. Explico-me melhor repetindo algo que já disse aqui: em corrida e ao contrário do que se possa pensar, não é correcto iniciar os apoios pelo calcanhar, uma vez que o pé é depois obrigado a rodar sobre si próprio até que a sua ponta entre em contacto com o solo, de maneira a desencadear a impulsão para a passada seguinte. Além do esforço suplementar envolvido nesta acção, isto resulta em tempo perdido. Aliás, nem é correcto nem tão-pouco é natural. Basta caminhar meia dúzia de metros descalço para o comprovar, pois logo nos apercebemos de que não é o calcanhar que primeiro toca o solo; mas antes – e aqui corrijo o que antes havia escrito – a parte da frente da planta do pé, entre o metatarso e os dedos. E o que o calçado faz – sobretudo o mais pesado, aquele que promete mais amortecimento – é justamente forçar o atleta a iniciar os apoios pelo calcanhar. E isto, acrescendo às desvantagens atrás apontadas, expõe o atleta a mais lesões devido ao maior impacto que este movimento produz. Por outras palavras, digamos que o último local dos vossos pés com que vocês quererão aterrar depois de saltarem de um muro são os vossos calcanhares – e, desconfio, que vocês não precisam sequer de levar a cabo tal experiência; todos sabemos de que forma a mesma acabaria: com muitas dores, certamente. Exemplo: reparem, na imagem acima publicada, como o pé do Scott está prestes a apoiar primeiro o calcanhar no chão enquanto que o corredor Tarahumara, pelo contrário, está prestes a fazê-lo com a parte da frente do pé. Hoje em dia, à luz destas novas evidencias, há quem enverede pelo caminho mais fundamentalista e proponha o boicote total ao calçado de corrida, advogando que a única forma saudável de correr é correr descalço. Eu até era capaz de concordar caso tivesse à minha disposição um percurso de terra fofinha ou, melhor ainda, relvado, onde pudesse correr à vontade e não me sujeitar a ver a minha planta do pé constantemente perfurada por pedras ou cacos de garrafas de cerveja. A minha posição, parece-me a mim, fica a meio caminho entre os aludidos fundamentalistas e aqueles ligados ao lobby das empresas de material desportivo que dizem que isto de correr descalço só está ao alcance de alguns predestinados com características biomotoras fora do normal. Daí a minha procura de calçado cada vez mais minimalista que proporcione a corrida mais natural possível sem o risco, repito, de ver a minha planta do pé constantemente perfurada por pedras ou cacos de garrafas de cerveja.

Resta dizer – e isto é o mais bonito de entre todas as coisas bonitas escritas neste texto – que os Tarahumara são um povo pacífico e imunes a doenças cujos sintomas incluam o stress, diabetes e colesterol. Será por correrem? Não sei, mas mal não deve fazer.

Quanto ao resto, vai-se andando."

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